A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, abriu ontem (17) a Conferência Internacional de Biocombustíveis, em São Paulo, empenhada em mostrar às 92 delegações participantes do encontro as vantagens da produção de álcool a partir da cana-de-açúcar. O governador de São Paulo, José Serra, esteve na abertura. Dilma, que substituiu o presidente Lula na abertura do encontro que ele mesmo convocou em 2007, rebateu os pontos contrários à produção de biocombustível e insistiu para os mais de 3.000 participantes nacionais e estrangeiros que o álcool brasileiro é diferente de outras experiências, como a que usa o milho ou o trigo como matéria-prima.
A conferência começa esvaziada pela ausência do próprio presidente Lula, mas principalmente pela pouca ambição do encontro em buscar entendimentos para uma agenda objetiva que conduza à melhoria do comércio internacional de biocombustíveis. Nenhum representante do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, virá ao encontro. Obama assume o governo em 20 de janeiro e já demonstrou pouca propensão a baixar a guarda das barreiras tarifárias que bloqueiam o ingresso do álcool brasileiro no mercado norte-americano.
Com o secretário de Agricultura do atual governo dos EUA, Ed Schaffer, o chanceler Celso Amorim deve apenas assinar um adendo ao memorando entre os dois países para expandir de quatro para nove a cooperação com terceiros países. Nenhum documento deverá ser tirado até sexta-feira.
Citando dados que descrevem o Brasil como o país com matriz energética mais renovável do mundo, Dilma disse que 47,5% das necessidades de energia no país são obtidas de fontes renováveis. Número muito superior, salientou, à média mundial, de 12,9%, ou de 6,7%, entre os países da OCDE. A ministra afirmou que a cana é a segunda fonte de energia na matriz de transportes. Disse que o Brasil acaba de alcançar a marca de 7 milhões de veículos bicombustíveis produzidos.
O governo quer, na conferência internacional, sedimentar a idéia de que o álcool deve ser adotado pelo mundo como alternativa energética para o transporte. Nessa situação, o Brasil será fornecedor natural.
Transição
O mundo precisa passar por uma transição da economia do carbono para a economia do pós-carbono, talvez para a economia do hidrogênio. Mas, neste momento, é fundamental que cresça a importância dos biocombustíveis na matriz energética de transportes, disse Dilma. A ministra criticou a forma pela qual o assunto tem sido abordado no mundo, principalmente em relação à visão internacional de que os biocombustíveis (incluindo o álcool combustível de cana) representa uma séria ameaça à segurança alimentar.
A visão brasileira, disse a ministra, demonstra que o uso do álcool de cana como alternativa ao petróleo oferece segurança energética e sustentabilidade ambiental. Dilma afirmou que o Brasil se consolidou como um modelo alternativo ao mundo ao mostrar que a expansão da produção de biocombustível não concorre com a produção de alimentos. Afirmou que, na década de 70, a indústria sucroalcooleira produzia 3.200 litros de álcool por hectare. Hoje, a produção duplicou, alcança a marca de 6.600 litros por hectare e pode crescer mais.
O avanço na produção de álcool não comprometeu, disse, a produção de grãos, cuja expansão foi de 142% no período. Hoje, a cobertura de cana na área agricultável do país atinge 4,2 milhões de hectares, ou 0,5% do território agrícola nacional. Dilma anunciou que as novas expansões da produção de cana para o abastecimento do mercado brasileiro não vão avançar em biomas sensíveis, como a Amazônia, o Pantanal e áreas de floresta tropical. Prometido para julho, o macrozoneamento agroambiental, que restringirá via corte de financiamento público o avanço da cultura nessas áreas, deve passar por discussões estaduais, fase que o governo pretende iniciar agora.
Dilma afirmou que a conferência ajudará a eliminar teses que carecem de embasamento científico. O Brasil tem interesse em transformar a tecnologia de agricultura tropical e de produção de cana num produto exportável.
Fonte: Folha de SP, em 18/11/08