A Petrobrás anunciou ontem (05/03) que dará início às compras na área de etanol. O presidente da Petrobrás Biocombustíveis (PBio), Alan Kardec, informou que a intenção é comprar participações de até 40% em usinas. Não queremos ser majoritários nem nessas aquisições nem nos novos projetos, disse. O investimento da estatal ocorre num momento em que a crise financeira internacional acentuou as dificuldades da indústria sucroalcooleira, com ameaça de cancelamento de projetos ou quebra de usinas. O plano da empresa é investir US$ 2,4 bilhões em biocombustíveis entre 2009 e 2013.
Segundo Kardec, a estatal quer participar com, pelo menos, 20% do total do crescimento do setor de etanol no País. Não é nossa intenção abocanhar uma fatia do mercado existente, mas sim do mercado que vai existir, disse. Ele afirmou ainda que os processos de aquisição devem ser concluídos até o fim do primeiro semestre. Estamos loucos para anunciar, mas há um termo de confidencialidade que nos impede. O executivo fez questão de descaracterizar a decisão como uma operação de socorro às usinas.
A Petrobrás adiou em dois anos, para 2015, a meta de exportação de 4,75 bilhões de litros de álcool, disse Kardec, comentando que a crise arrefeceu os ânimos de alguns investidores que seriam parceiros da estatal no negócio. A crise influenciou a cabeça de alguns. Não a da Petrobrás, mas em alguns casos temos de acompanhar o ritmo dos investidores.
Para o diretor da consultoria Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, a mudança de estratégia da Petrobrás sinaliza que a estatal quer antecipar a sua produção de etanol, que seria mais demorada nos chamados projetos greenfield, ou seja, de novas usinas. Nos projetos greenfield a companhia começa do zero, do plantio das mudas de cana, disse Carvalho. Ele destaca que a Petrobrás precisará de investimento bem menor na aquisição de usinas já prontas.
A crise já provocou, no início do ano, grande queda na colheita de cana-de-açúcar na principal região produtora nacional, o Centro-Sul. A sobra de safra é um dos sinais mais evidentes da desaceleração dos investimentos. Usinas em São Paulo, que tinham início de operação prevista para o primeiro bimestre, não ficaram prontas, e duas dezenas de projetos sofreram corte de verbas em Mato Grosso do Sul.
Kardec reconheceu que a decisão de entrar em usinas de etanol é uma mudança de estratégia da companhia. Antes, pensávamos apenas no mercado internacional e na participação em novos projetos. Ele admitiu que o processo de reestruturação do setor sucroalcooleiro e as dificuldades enfrentadas por algumas usinas estimularam as compras.
Fonte: Agência Estado, em 06/03/2009