A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), maior organização representativa das usinas de açúcar e bioetanol do Brasil, criticou as declarações feitas a respeito do setor pelo promotor de Justiça do Ambiente Marcelo Goulart.
Em entrevista publicada na edição de segunda-feira da Folha, Goulart apontou o que seriam danos ambientais causados pela produção de açúcar e álcool combustível. E disse que o Estado de São Paulo está virando um grande canavial.
Disse Goulart na entrevista: A queima do combustível álcool também polui, e o processo de produção do álcool é sujo. Temos a queima da cana, o desmatamento, o uso incontrolado de insumos químicos (…). Mais: a produção do álcool exige economia de escala, que somente se viabiliza nesse padrão de produção baseado na monocultura e na concentração fundiária. São Paulo está se tor nando um grande canavial.
Nada a ver
Segundo a Unica, os comentários do promotor sobre o etanol têm pouco ou nada a ver com a realidade do combustível ou do setor que o produz.
Informa nota divulgada pela Unica: Como exemplo, o promotor critica a queima da cana como se ela fosse eterna, sem explicar que essa prática tem data para acabar em São Paulo graças ao sucesso do Protocolo Agroambiental, assinado em 2007 entre a indústria da cana e o governo do Estado. Estima-se que até 2014, a queima estará eliminada em mais de 90% das áreas plantadas no Estado. Nas restantes, hoje consideradas não mecanizáveis, a queima deve terminar até 2017.
A entidade negou que a expansão da cana ocorra em áreas de vegetação nativa. Segundo a Unica, 99% da expansão ocorre em áreas já ocupadas por agricultura ou pastagens, e não à custa de desmatamento.
A Unica também contestou o prognóstico do promotor para o álcool c ombustível. Segundo Goulart, o futuro não estaria no álcool, mas em outras fontes alternativas, como o hidrogênio e a eletricidade. Diria que o álcool é um combustível de transição. Não terá vida longa.
Para a Unica, a visão do promotor está na contramão das dezenas de lideranças mundiais, que têm afirmado sucessivamente que a indústria da cana no Brasil representa um processo exemplar de substituição de combustíveis fósseis, mitigação de emissões ligadas ao efeito estufa, com perspectivas extraordinárias na área de bioplásticos e hidrocarbonetos de origem agrícola, entre várias frentes.
Baseado em Ribeirão Preto, Goulart moveu, somente em 2009, 55 ações civis públicas em defesa do ambiente.
Sua atuação é polêmica porque ele não poupa usinas consideradas exemplares na produção de produtos alternativos, como a do grupo Balbo, maior produtor mundial de açúcar orgânico, que teve financiamento bancário de R$ 50 milhoes bloqueado pela ação do promotor.
Fonte: Folha de SP, em 23/12/09