Nem mesmo em São Paulo, o maior produtor de álcool do país, compensa mais abastecer com o biocombustível. O preço médio do produto subiu 5,8% no Estado na primeira semana do mês, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo).
O preço do álcool saltou de R$ 1,670 por litro nas bombas dos postos paulistas na semana iniciada em 27 de dezembro para R$ 1,767 na que começou no dia 3. Com isso, a relação entre o custo da gasolina e do álcool ficou em 71,2%.
Só é vantagem abastecer com o biocombustível quando o produto custa até 70% do valor da gasolina, segundo especialistas. É que a gasolina tem rendimento maior. Ou seja, o motorista percorre mais quilômetros com um litro do combustível do que com o álcool.
Segundo dados da ANP compilados pela Folha, em apenas sete Estados ainda compensa usar o álcool como combustível: Mato Grosso, Goiás, Pernam buco, Tocantins, Paraná, Bahia e Alagoas. Nos dois últimos, porém, a relação está no limite dos 70%.
Até a última semana de dezembro, ainda valia a pena abastecer no Estado de São Paulo com álcool, pois o preço do produto correspondia a 68,7% do da gasolina. A exceção era a capital, segundo indicou naquela semana levantamento feito pela Folha. No Rio, já não era vantagem.
Desde meados de dezembro, os preços do álcool ao consumidor subiram 12,5% no Estado de São Paulo, acima da média nacional -alta de 7,9%.
Na esteira do aumento do álcool, a gasolina também subiu. É que o derivado de petróleo recebe uma adição de 25% de etanol em sua composição antes de ir para os postos.
Pelos dados da ANP, a gasolina teve alta de 0,5% na semana iniciada no dia 3 deste mês. O preço médio nacional do produto passou para R$ 2,561. Em São Paulo, avançou mais -2%- e bateu em R$ 2,481.
Diante da disparada do álcool, o governo estuda reduzi r a mistura à gasolina. A decisão deve sair na próxima semana.
Muitos são os fatores de pressão sobre os preços do álcool, segundo especialistas. O primeiro é a entressafra da cana, iniciada em dezembro.
Mirian Bacchi, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq-USP, diz que neste ano a entressafra é mais intensa por causa do excesso de chuvas.
Além disso, as usinas entraram no período com estoques muito baixos -na maior parte de 2009, os preços se mantiveram deprimidos em razão da crise e da necessidade das empresas de fazer caixa e vender o produto a qualquer preço.
Esse cenário, diz, estimulou o consumo de etanol e resultou numa queima dos estoques reservados para a entressafra.
Além disso, diz, as cotações do açúcar se mantiveram altas, o que estimulou os usineiros a apostar mais na produção da commodity do que na de álcool.
Fonte: Folha de SP, em 11/01/2010