No mesmo dia, Obama fala em aumentar uso de álcool como fonte de energia, mas tarifa de importação ainda barra produção brasileira
A Agência de Proteção Ambiental americana incluiu o álcool brasileiro produzido a partir da cana-de-açúcar na lista de biocombustíveis que podem contribuir para a redução das emissões de gases do efeito estufa. A agência divulgou ontem regulamentação para produção e uso de biocombustíveis nos EUA, com a determinação de patamar mínimo de consumo.
Segundo a agência, o biodiesel a partir da soja e de outros materiais, o álcool de cana-de-açúcar e o álcool a partir do milho (este último, desde que produzido com tecnologias mais eficientes) cumprem as exigências de redução dos gases do efeito estufa. Nos cálculos da agência, o álcool de cana redu z as emissões em até 61% comparado com a gasolina, um patamar bastante superior ao do álcool a partir do milho, na faixa dos 20%.
As regras divulgadas pela agência complementam o Ato de Segurança e Independência Energética aprovado em 2007. A agência estipula que os EUA devem ter um consumo mínimo de 45 bilhões de litros de biocombustíveis neste ano. Até 2022, ele deve alcançar 136 bilhões de litros. A regulamentação prevê o uso de pelo menos 15 bilhões de litros por ano até 2022 da categoria de combustível na qual o álcool de cana se enquadra. Em 2010, a previsão é de uso de 756 milhões de litros deste tipo de combustível.
A própria agência afirma no documento que só analisou em suas projeções o álcool de cana do Brasil, mas que isso não impede os EUA de comprarem de outros países desde que eles estejam de acordo com as regras.
Para Joel Velasco, representante-chefe da Unica ( associação de produtores brasileiros) em Washington, o aval da agência indica que a produção sustentável de um biocombustível pode contribuir no combate a mudanças climáticas. As novas regras criam quase uma obrigação de consumo, cria mercado para o Brasil e fortalece os argumentos para derrubar a tarifa a qual estamos submetidos. É um reconhecimento de um órgão de governo de que o álcool de cana tem efeito na redução de gás do efeito estufa, afirmou
O presidente dos EUA, o democrata Barack Obama, anunciou ontem uma série de medidas para aumentar a produção de biocombustíveis no país. A estratégia apresentada ontem também tenta criar as bases para a aprovação do projeto de lei de mudança climática que visa aumentar a produção de energia limpa no país. O projeto enfrenta forte resistência da oposição republicana.
Em encontro com governadores, Obama detalhou três medidas. A primeira foi a regulam entação divulgada ontem pela Agência de Proteção Ambiental; a segunda, uma proposta do Departamento de Agricultura para fornecer financiamento à conversão de biomassa em energia.
Além disso, Obama anunciou a criação de uma força-tarefa composta por representantes de diversas agências para captura de carbono. Esse grupo será responsável por desenvolver uma estratégia para acelerar a produção de energia limpa.
Agora acredito que devemos aprovar uma ampla lei de energia e clima. Ela fará da energia limpa um tipo rentável de energia, e a decisão de outras nações de fazer isso já está impulsionando seus negócios no desenvolvimento de empregos e tecnologia. Mas mesmo que você discorde da ameaça imposta pelas mudanças climáticas, investir em empregos de energia limpa e em negócios ainda é a coisa certa a fazer para a nossa economia, afirmou Obama.
Ele argumenta que o aumento da produção de combustíveis renováveis pode reduzir a dependência dos EUA de petróleo em mais de 328 milhões de barris/ano e cortar as emissões de gases do efeito estufa em mais de 138 milhões de toneladas métricas por ano até 2022.
Fonte: Folha de São Paulo, em 4/2/2010