O governo está preocupado com a invasão estrangeira na cadeia de produção de etanol. Para evitar o processo de desnacionalização, o Planalto articula o fortalecimento da recém-criada ETH-Brenco, da qual a Odebrecht é a controladora, via Petrobras e BNDES.
Segundo a Folha apurou, a estatal petrolífera negocia fatia de até 40% na sociedade (cerca de R$ 2,8 bilhões, considerando o valor estimado da nova companhia, de R$ 7 bilhões). O BNDESPar (braço de investimento do banco estatal), por sua vez, investirá R$ 300 milhões em aumento de capital para manter participação de 16,6% na empresa (fruto de dívida convertida em ações).
Além disso, a Petrobras tem planos de adquirir em 2010 outras três usinas de cana, investindo R$ 450 milhões na operação, que se somariam ao patrimônio da ETH.
A preocupação do Planalto com o processo de desnacionalização da cadeia do etanol atingiu seu auge no mês passado, quando foi assinado o memorando de entendimento entre a norte-americana Shell e a brasileira Cosan para a criação da líder mundial do setor, avaliada em US$ 12 bilhões.
A transação marca a entrada de uma petrolífera na área. E a Petrobras, apesar de ter criado subsidiária para atuar em biocombustíveis e de ter comprado uma usina de cana em dezembro passado por R$ 150 milhões, não produz um litro sequer de etanol no país.
Antes disso, a americana Bunge havia comprado o grupo Moema e as francesas Louis Dreyfus e Tereos adquiriram a Santa Elisa e a Açúcar Guarani, respectivamente, além de outras operações nas quais sempre o capital estrangeiro comprou participação nacional.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, a entrada da Petrobras na ETH seria oportuna para a Odebrecht reduzir a dívida da companhia. A nova empresa possui ativos de R$ 3,8 bilhões, fruto do investimento feito pelas duas empresas nos últimos anos. Deste total, 60% veio por meio de empréstimos, inclusive R$ 1,8 bilhão liberado no final de 2008 pelo BNDES.
Não será o primeiro negócio em que a Odebrecht é fortalecida com a atuação estatal em um setor, via Petrobras. No início do ano foi a vez da petroquímica. A Petrobras e a Braskem (controlada pela construtora) compraram a Quattor e formaram uma gigante da área. Com o etanol, as empresas poderão repetir o casamento.
A Petrobras informou que não negocia nenhum tipo de parceria com a empresa e não comentará negociações. Mas informou que seu plano de investimentos em combustíveis renováveis contempla US$ 4,5 bilhões até 2013.
Para o especialista em energia Adriano Pires, o setor está passando por grandes mudanças e por um processo de consolidação. No Brasil, até há pouco tempo as empresas do setor possuíam perfil familiar, e as usinas eram muitas vezes sediadas nas próprias fazendas. Hoje elas precisam se adequar às novas exigências do mercado de capitais para atrair investimentos. Segundo Pires, cerca de 50 usinas de cana podem estar à venda no país atualmente.
O governo dormiu no ponto, focou no pré-sal e se esqueceu dos biocombustíveis, anteriormente a principal bandeira de Lula. Enquanto isso, os grandes grupos multinacionais deram os primeiros passos.
Fonte: Folha de SP, em 03/03/2010