Os projetos de resina verde – a partir de matéria-prima renovável – estão impulsionando o mercado de álcool voltado para as indústrias químicas no Brasil. Companhias como a Solvay e a Braskem começam a usar o etanol em substituição aos derivados de petróleo para a produção do plástico verde. Na ponta fornecedora estão grupos como a Copersucar e ETH Bioenergia, controlada pela Odebrecht, que já fecharam contratos para atender essa demanda. De olho no potencial desse mercado, tradicionais empresas do setor sucroalcooleiro, como a Cosan, já planejam entrar nesse segmento, em franca expansão no país.
A expectativa é de que o mercado de álcool voltado para indústria química movimente entre 1,5 bilhão a 1,8 bilhão de litros este ano, ante cerca de 1 bilhão de litros destinados a esse segmento nos últimos anos. Para 2011, os volumes devem ultrapassar os 2 bilhões de litros, informou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União das Indústrias da Cana-de-açúcar). A produção de álcool químico tem girado em torno de 1 bilhão de litros e é destinado, sobretudo, às companhias farmacêuticas, para a produção de remédios e perfumes, dentro e fora do Brasil. Agora, com os projetos de resinas verdes saindo do papel, o mercado para esse produto deverá se ampliar.
Em entrevista ao Valor, Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da Copersucar, informou que a empresa fechou contrato para fornecer por 10 anos álcool químico para a Solvay no Brasil. Além do fornecimento do etanol para indústrias no mercado interno, a Copersucar também está intensificando as exportações desse tipo de álcool para os Estados Unidos.
A Copersucar deverá destinar 140 milhões de litros de etanol por ano para a Solvay. Na safra passada, a 2009/10, a Copersucar comercializou 100 milhões de litros para diversos clientes, dos quais 84 milhões de litros para o mercado externo.
Segundo Sergio Zini, diretor da Solvay, o projeto da companhia prevê a substituição parcial da nafta pelo etanol para a produção bioetileno para a produção de PVC verde. A empresa compra a matéria-prima da Quattor, incorporada este ano pela Braskem. O projeto deveria ter entrado em operação no ano passado, mas foi adiado por conta da crise, segundo Zini. A expectativa é de que o projeto ganhe força à medida que a demanda pelas resinas verdes cresça.
O mercado de etanol para fins industriais apresenta perspectiva de crescimento, inclusive para aplicação em embalagens plásticas, com o objetivo de valorizar o conceito de sustentabilidade, ao substituir insumo de origem fóssil por matéria-prima renovável – o etanol, afirma Pogetti. A Copersucar vem se posicionando de forma a obter participação ainda mais relevante neste segmento, mantendo característica de vanguarda no desenvolvimento de novos mercados para o etanol.
A Braskem, maior petroquímica das Américas, começa a operar a partir do quarto trimestre deste ano sua fábrica em Triunfo (RS) dedicada à produção de resina verde. No ano passado, a companhia fechou contrato para comprar álcool da ETH. A usina vai fornecer cerca de 150 milhões de litros de etanol por ano nos próximos três anos. A petroquímica já fechou acordo com a Tetra Pak para o fornecimento de 5 mil toneladas por ano de polietileno verde de alta densidade (PEAD) a partir de 2011. Esse tipo de resina será utilizado na confecção de tampas e lacres das embalagens.
Pedro Mizutani, vice-presidente da Cosan, disse que a companhia tem interesse de fechar contratos para o fornecimento de álcool para indústria química. Ainda estamos prospectando negócios.
Para Alexandre Strapasson, diretor de açúcar e álcool do Ministério da Agricultura, a expectativa é de que o mercado de etanol voltado para fins industriais avance. O etileno é a base de muitas indústrias químicas, que normalmente utilizam a nafta como matéria-prima. No entanto, o etanol também pode ser facilmente convertido em etileno e, a partir daí, em vários outros produtos, especialmente plásticos com o polietileno e outros polímeros.
Esse mercado de resina verde tende a se tornar mais competitivo, sobretudo quando o preço do barril do petróleo estiver acima de US$ 80, segundo estimativas de Strapasson. Isso (relação de custos) depende, obviamente, de caso a caso e do tipo de contrato de suprimento estabelecido entre fornecedor e comprador, considerando os riscos relativos às oscilações dos preços da nafta e do etanol, disse o diretor do ministério.
Fonte: Jornal da Cana, em 15/06/2010