A cadeia petroquímica brasileira já está buscando rotas alternativas em substituição ao petróleo para a produção de resinas termoplásticas verdes. Com os preços do petróleo nos patamares atuais (em torno de US$ 80 o barril), a produção de plásticos a partir do etanol torna-se economicamente viável, afirmou ao Valor Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro.
A Braskem é a companhia mais avançada nesse segmento. A partir de setembro, a empresa coloca em operação sua unidade de resinas verdes no polo petroquímico de Triunfo (RS). A fábrica deverá produzir 200 mil toneladas de eteno e polietileno com matéria-prima renovável, dos quais dois terços deverão ser exportados. A companhia está com estudos avançados para descobrir novas rotas de produção de resinas a partir do polipropileno e busca parcerias para desenvolver plástico verde dentro e fora do país. Há conversas com Estados e governos de outros países para firmar acordos, segundo informou o grupo.
A destinação de etanol para as indústrias químicas tem crescido a cada ano. Até julho, as empresas químicas absorveram cerca de 80 milhões de litros por mês desse tipo de álcool. A partir deste mês, o consumo mensal está estimado em 120 milhões de litros, um aumento de 50%. A expectativa é de que esse mercado movimente 2,5 bilhões de litros por ano em 2015. Esse mercado é real no curto e longo prazo e ocupa um espaço que seria destinado às exportações. Traz capital de giro às usinas, afirmou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União das Indústrias da Cana-de-açúcar).
Segundo Pádua, o Brasil está preparado para esse mercado há cerca de 25 anos. Entre 1985 e 1986, o consumo de etanol para esse fim ficou entre 800 milhões a 1 bilhão de litros anuais destinados à produção de eteno. Àquela época, o preço do etanol era equalizado com o da nafta.
Empresas como Braskem, Rhodia, Oxiteno (do grupo Ultra) estão entre os principais concorrentes desse mercado. Somente a Braskem, hoje a maior das Américas, consumirá cerca de 700 milhões de litros anuais de etanol, o que a torna a maior consumidora global desse produto para uso químico do país, superando a Rhodia – que fechou acordo com uma petroquímica do Oriente Médio para produzir produtos químicos com etanol brasileiro.
Em recente entrevista ao Valor, a Braskem informou que fechou contrato com pelo menos dez usinas de etanol para a compra do produto. Além da ETH Bionergia, empresa sucroalcooleira da Odebrecht, conglomerado que também controla a Braskem , e Cosan, outras oito usinas fazem parte do grupo de fornecedores, entre eles, a Bunge, Copersucar, AdecoAgro, CPA Trading, Noble,Açúcar Guarani e Mandu. A petroquímica também vai buscar o produto no mercado spot (físico) e a exigência é de que seus fornecedores estejam enquadrados no código de ética da empresa, que respeitem questões relativas à sustentabilidade.
Segundo Pádua, muitas usinas sucroalcooleiras do país já trabalham para atender a esse mercado. Além da experiência na produção, há a segurança de abastecimento (sem o risco de quebra de contrato). Além disso, as indústrias consumidoras atendem ao apelo ambiental, disse. Muitas companhias estão fazendo investimentos em etanol de segunda geração.
Fonte: Valor, em 18/08/2010