O aumento da importação de matérias-primas, componentes e peças pela própria indústria ajuda a explicar o forte aumento da importação em 2010. Fabricantes de eletroeletrônicos, bens de informática e têxteis, entre outros setores, ampliaram a compra de insumos de outros países como um mecanismo de compensação de custos e também pela própria dependência do seu produto do insumo ou peça importada. Nos últimos meses, explicam os empresários, a importação cresceu ainda mais para formar estoques para a produção destinada às vendas de fim de ano.
Em Pernambuco, a fabricante de computadores Elcoma já está importando 30% mais componentes do que no segundo trimestre. Parte da alta é explicada pelo ritmo de produção, que cresce 20% no mesmo período, puxado pelas encomendas de fim de ano. Cerca de 60% dos componentes utilizados pela empresa vêm de fora, especialmente da China.
Um estoque de componentes acima do considerado normal para o período foi justamente o que acusou a sondagem do mês de julho da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Esse estoque foi verificado em 25% das empresas pesquisadas. Segundo o gerente do departamento econômico da associação, Luiz Cezar Rochel, trata-se de uma tendência discreta e que não causa preocupação. Segundo Rochel, o estoque pode ter sido ocasionado por bons preços ou talvez seja apenas a preparação para a continuidade da produção. O setor, informa, mantém a perspectiva de aumento do nível de produção, com ampliação de 12% de faturamento em relação a 2009, a mesma estimativa que se tinha no começo do ano.
O diretor executivo da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, Flávio Dutra, também enxerga um segundo semestre com produção crescente na Zona Franca de Manaus. Segundo ele, as encomendas de agosto para o abastecimento do comércio para o fim do ano já se iniciaram e prometem fazer o setor cumprir a meta de faturamento de US$ 32 bilhões ou até US$ 33 bilhões em 2010. No ano passado, a receita bruta foi de US$ 28 bilhões. No primeiro semestre, diz, a Copa do Mundo impulsionou o mercado interno e a indústria não foi capaz de atender todos os pedidos.
No Piauí, a fabricante de bicicletas Houston também está importando mais: 40% em relação a 2009. A alta está em linha com o crescimento da atividade industrial e com o volume de encomendas para o segundo semestre, que concentra 70% do faturamento. De acordo com seu diretor comercial, Adilson Custódio, a Houston traz da China pouco mais da metade de todos os componentes que utiliza na fábrica de Teresina, Piauí, de onde saem 5,5 mil bicicletas por dia. Os principais itens importados são freios, correntes, cubos e câmbios.
Apesar do aumento de importações de produtos têxteis, o setor ainda não sente impacto nos níveis de produção. O aumento da presença de produtos acabados preocupa, mas não chega a machucar, avalia o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau e Região (Sintex), Ulrich Kuhn. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) compilados pela Associação Brasileira de Indústrias Têxteis e de Confecção (ABIT), de janeiro a junho deste ano entraram no país US$ 2,28 bilhões de produtos têxteis no Brasil contra US$ 1,8 bilhão no mesmo período de 2009.
O presidente destaca que mesmo com o crescimento das importações a indústria têxtil local atravessa um bom momento. Nunca estivemos tão aquecidos, diz. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) foram gerados 67 mil empregos no setor na primeira metade do ano. Segundo Ulrich, a importação também se tornou uma estratégia da indústria brasileira para compor portfólio e buscar maior competitividade no mercado. Toda a grande e média indústria importa matéria-prima para equilibrar o câmbio ou para complementar mix e ser competitiva, diz o presidente.
Para Sonia Hess, presidente da indústria de camisas Dudalina, de Brusque, o importado ainda não é um competidor forte no segmento em que ela atua. As nossas três marcas estão focadas no público A e B. A camisa importada é, em maior volume, um produto mais barato que não concorre com o nosso, diz.
Sonia diz que a Dudalina vai ao exterior em busca de matérias-primas para complementar o mix e muitas vezes elas são mais baratas. Ela avalia que o segmento de tecidos planos, que demanda grandes investimentos, ficou defasado na comparação com o competidor estrangeiro.
Para a Dudalina, o primeiro semestre deste ano foi melhor do que o de 2009. A empresa contratou 150 funcionários até agora e trabalha com 100% de ocupação. O segundo semestre começou meio de lado, mas está reagindo, disse. A presidente espera atingir R$ 170 milhões de faturamento em 2010, um crescimento entre 17% e 20% na comparação com o ano passado.
A pernambucana Elcoma também elevou substancialmente a importação de peças para revenda, como HDs, processadores, memórias e leitores e cartão. Seu presidente, Júlio Gil Freire, afirma que as condições de mercado para essas operações estão muito boas.
Fonte: Udop, em 18/08/2010