Alguns segmentos do agronegócio receberam as novas regras para estrangeiros com tranquilidade. O parecer do governo sobre a compra de terras por estrangeiros não deve trazer desdobramentos para grupos estrangeiros já instalados no Brasil e que adotam aqui a coparticipação no negócio, modelo comum no setor sucroalcooleiro. Entre os produtores de cítricos, a mudança para os estrangeiros chegou a ser considerada bem-vinda.
As restrições aos estrangeiros não devem afetar o modelo de negócios adotado pelo setor sucroalcooleiro, que vem ganhando maior participação de estrangeiros, na avaliação de André Passos, sócio da Buranello Passos Advogados. O especialista, com forte atuação em processos de fusão e aquisição de usinas, avalia que o modelo atual deste setor é de coparticipação de grupos estrangeiros, de forma que, os imóveis rurais têm permanecido nas mãos dos acionistas locais. Há, na minha avaliação, uma forte preocupação do governo em limitar que estrangeiros estruturem empresas no Brasil para adquirir terras para especulação imobiliária.
Nos últimos anos, o setor sucroalcooleiro do país entrou em crise e foi socorrido por multinacionais que, capitalizadas, entraram comprando participação e controle de usinas.
Entre os casos mais conhecidos estão o da Louis Dreyfus, que comprou o controle da Santelisa Vale, a Bunge, que adquiriu as usinas do grupo Moema e a indiana Shree Renuka, que levou o controle das duas usinas da Equipav e da paranaense Vale do Ivaí.
Segundo estimativas da consultoria Datagro, em torno de 23% da capacidade total de processamento de cana está nas mãos de capital estrangeiro, ante 12,4% registrados na temporada 2008/09.
Para alguns produtores agrícolas, porém, as restrições foram consideradas bem-vindas. Flavio Viegas, presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), diz que as medidas não deverão afetar diretamente o segmento, onde a maior parte das empresas é de capital nacional. Ele acredita, porém, de forma geral, que as restrições são importantes em razão das grandes compras de terras por estrangeiros, principalmente chineses. Se não houver algum controle haverá desnacionalização da produção agrícola, com futuro encarecimento dos alimentos.
Fonte: Valor, em 26/08/2010