A capacidade de geração de renda dos brasileiros avançou mais que o potencial de consumo no país entre 2003 e 2009, mostrou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) em estudo nesta sexta-feira.
Baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o estudo do Centro de Políticas Sociais da FGV aponta que no período a geração de renda cresceu 31,2 por cento, ao passo que o potencial de consumo avançou 22,6 por cento.
O lado que mais prospera é o do trabalhador brasileiro. Isso mostra que haverá poder de compra mais à frente, afirmou o coordenador do levantamento, Marcelo Neri.
O brasileiro está se tornando mais formiga do que cigarra. Está investindo mais em educação própria, do filho, comprando mais computador… está fazendo uma acumulação de ativos produtivos, explicou Neri. Segundo ele, esses investimentos não tangíveis explicam a diferença percentual entre a capacidade de geração de renda e o poder de consumo.
Neri destacou que nem mesmo a crise financeira internacional de 2008 suspendeu essa tendência de avanço maior da geração de renda sobre a capacidade de consumo da população.
De acordo com a FGV, durante o ano da crise, o índice de consumo avançou 2,49 por cento, enquanto o índice de geração de renda cresceu 3,05 por cento.
Neri avaliou que o avanço da renda foi alavancada pelo rendimento do trabalho, o que mostra a melhora das condições do mercado, como a ampliação da formalização, geração de 995 mil empregos com carteira assinada em 2009 e de mais de 1,6 milhão entre janeiro e julho de 2010, segundo dados do Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego.
O cruzamento entre a Pnad e a pesquisa da FGV mostra que cerca de 29 milhões de pessoas passaram a fazer parte da classe média brasileira entre 2003 e 2009, um aumento de 34,32 por cento, para 94,3 milhões. O estudo define a classe média como aqueles cuja renda domiciliar total fica entre 1.126 reais e 4.854 reais.
Só entre 2008 e 2009, esse crescimento foi de 3,2 milhões de pessoas na classe média.
De acordo com a FGV, mais da metade da população, 50,5 por cento, faz parte da classe média nacional.
O grande protagonista não é programa social, que existe e cria uma grande dependência e vulnerabilidade. Confesso que me surpreendi, disse o economista. O grande protagonista dessa emergência dessa nova classe média é o trabalhador brasileiro mais que o consumidor, embora sejam dois lados da mesma moeda, avaliou Neri.
O estudo mostra ainda que as classes A e B avançaram ainda mais no período 2003-2009: 38,51 e 40,99 por cento, respectivamente.
Para Neri, o período eleitoral ajuda a impulsionar a geração de empregos no país e, consequentemente, a renda do trabalhador. O emprego formal, argumentou, está batendo recorde em um mundo em crise.
A transformação é surpreendente e obviamente estamos em um ano de eleição. Você não passa no exame antidoping sem todos os incentivos político-eleitorais para a economia girar mais rápido. Talvez isso seja excessivo, mas por outro lado é dinheiro no bolso do trabalhador.
Para ver o estudo completo, clique em http://www.fgv.br/cps/ncm/
Fonte: REUTERS, em 12/09/2010