Tudo indica que a safra de cana-de-açúcar começará mais tarde neste ano. A maioria das usinas e destilarias deverá acionar as fábricas em meados de abril, até um mês após o início do ciclo de 2010. Significa que perto de 50 milhões de toneladas da matéria-prima serão moídas depois.
O montante é suficiente para fazer 4 bilhões de litros de etanol ou 6 milhões de toneladas de açúcar. Mas o atraso na produção não deverá afetar o mercado devido aos estoques porque as usinas iniciarão a safra a tempo de evitar problemas de abastecimento.
As informações dos parágrafos anteriores são de Antonio David, especialista em compra e venda de açúcar e de etanol de usinas.
Instalado no edifício Metropolitan, em Ribeirão Preto, onde estão importantes representantes do setor, como a regional da União da Indústria de Cana (Unica) e o Grupo Andrade, o executivo dirige “um modesto escritório” – como prefere denominar – que opera produtos das principais usinas da região junto a grandes empresas compradores e mesmo a traders internacionais.
Por que a safra começará mais tarde?
Os canaviais ficaram seriamente afetados pela estiagem no ano passado. Isso atrasou a maturação da cana, ou seja, ela não está vegetativamente pronta neste primeiro trimestre. Existe outro problema: a seca reduziu a qualidade da cana e estimo que esses canaviais farão 13% menos açúcar e 23% menos etanol.
A safra deste ano produzirá mais açúcar do que etanol?
Sim, porque o momento é do açúcar. Há falta dele no mercado internacional e o Brasil, como maior produtor mundial, tende a suprir essa demanda. Nesse ano, o preço do etanol não deverá acompanhará o crescimento do açúcar.
Como assim?
Durante a semana, enquanto a usina recebia R$ 61 livres de impostos pela saca do alimento, o litro do etanol hidratado remunerava R$ 1,19 líquidos [uma tonelada de cana faz em média 85 litros de etanol, o que rendeu R$ 101 pela cotação da semana, enquanto a mesma tonelada rende 125 quilos de açúcar, ou 2,5 sacas, que renderam R$ 152, ou seja, 50% mais que o etanol].
O mercado crescente do açúcar atrai negociadores de fora do setor, como os fundos, que compram contratos para vender depois, quando os preços melhoram ainda mais?
Sim. A presença desses fundos tende a aumentar.
Isso é bom para o produtor?
Não, porque ele ficará mais vulnerável, uma vez que o valor do mercado estará nas mãos desses agentes, que já têm muitos dos contratos de açúcar disponibilizados no mercado financeiro.
E a presença de grupos internacionais no setor, tende a crescer?
No passado já tivemos multinacionais como produtoras, caso da Sucrerie, que operava em Piracicaba. Agora elas retornaram. Na região já temos os grupos Louis Dreyfuss, Tereos, Cargill e Bunge. Agora, será vez da Raízen, criada a partir da associação entre o grupo Cosan e a Shell. Essa tende a ampliar os investimentos no setor.
Já é possível avaliar como será a safra de 2012?
Não. É uma dúvida porque dependerá muito do comportamento do mercado internacional, principalmente no caso do açúcar. Lembremos que o Brasil exporta 60% do açúcar que faz. Qualquer alteração para baixo refletirá diretamente na produção interna.
A oferta de cana crescerá no próximo ano?
Sim. Neste ano deveremos moer 670 milhões de toneladas no país e, em 2012, a moagem chegará a 700 milhões de toneladas.
No geral, a cana-de-açúcar vai bem?
Sim. Sempre digo que a cana tem ciclo de seis anos e nomes diferentes para cada ano e meio. No primeiro, é a fase diamante. No segundo, ouro. O terceiro período é prata, enquanto o quarto é ferro. Estamos vivendo a fase de diamante e de ouro, tanto na demanda quanto nos preços.
Fonte: Jornal A Cidade – Ribeirão Preto/SP, por Delcy Mac Cruz