A pressão contra a produção de biocombustíveis voltou à agenda, agora num relatório de nove organizações internacionais que será examinado no encontro de vice-ministros de agricultura do G-20, amanhã e quinta-feira em Paris.
O documento foi preparado em resposta a uma demanda dos líderes das maiores economias desenvolvidas e emergentes para tratar de questões de segurança alimentar no contexto de uma das maiores altas dos preços dos alimentos desde 2008, que causou inclusive revoltas populares em países importadores.
Em janeiro, o presidente francês Nicolas Sarkozy, que ocupa a presidência rotativa do G-20, foi incisivo, declarando que “a especulação cria revoltas da fome”. Semanas depois, a ministra de Finanças do país, Christine Lagarde atenuou o tom: “Não dizemos que a especulação alimenta a alta de preços”.
A FAO, agência de agricultura e alimentação da Organização das Nações Unidas, a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e mais sete agências internacionais constatam a crescente especulação financeira sobre o mercado de commodities, mas não chegam a um acordo sobre até que ponto esse comportamento especulativo tem um papel na alta dos preços dos alimentos.
O documento insiste sobre a importância de maior cooperação entre os países do G-20 para mitigar os efeitos negativos da alta de preços, por exemplo através de mais transparência no mercado agrícola, envolvendo estoques, oferta, demanda e transações de derivativos.
Mas vai além e expressa igualmente “preocupações” em relação ao crescente uso de biocombustíveis sobre o suprimento global de alimentos, conforme fontes que tiveram acesso ao estudo confidencial.
O Brasil sinalizou inquietação com essa questão, já que o relatório fala de maneira genérica e sem fazer diferenciação entre o impacto da produção de etanol a partir de milho nos Estados Unidos sobre o mercado de alimentos e o do etanol produzido à base de cana-de-açúcar.
Para uma fonte, “com esforço” seria possível identificar nas entrelinhas uma nuance contra o etanol americano, que os técnicos evitaram explicitar, para não enfrentar a reação americana à sua produção de etanol.
O documento também reclama do impacto de restrições à exportação de produtos agrícolas, iniciativa tomada por Rússia e Ucrânia após quebra na safra e que elevou os preços de cereais.
Sempre na linguagem diplomática, essas agências indicam ser contrárias a controle de preços no mercado agrícola internacional. Quanto à criação de estoques regionais de alimentos, isso poderia eventualmente ser estimulado em casos de emergência em países pobres.
Como se previa, as ideias de controle de preço ou formação de estoques regionais de alimentos foram enterradas, depois da reação do Brasil, Argentina, EUA e outros países exportadores.
A reunião de amanhã e quinta-feira em Paris prepara o grande encontro de ministros de agricultura do G-20 nos dias 22 e 23 de junho na capital francesa, durante o qual a França quer levar adiante o seu projeto de regular o mercado futuro de commodities para evitar a especulação.
Fonte: Udop, em 22/03/2011