O presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, afirmou hoje que o setor produtivo de etanol negocia com o governo medidas no “curtíssimo prazo” para garantir o abastecimento de etanol na próxima entressafra, em 2012, e tentar evitar a crise de oferta e de alta nos preços do combustível como a que ocorreu entre março e abril deste ano. Segundo Jank, estão em pauta um novo programa de financiamento para usinas estocarem etanol agora, no início da safra de cana, e a contratação de um volume de álcool anidro suficiente para o aumento da demanda da gasolina, à qual é misturado em até 25%.
“Existe programa de estoques de etanol em andamento que não funciona, porque os recursos saem tarde e é preciso pensar uma maneira para que isso ocorra no começo da safra e garanta volumes necessários para atravessar entressafra”, disse Jank. “O segundo ponto é ampliar sistema de contratação de etanol (pelas distribuidoras) e garantir que para cada litro de gasolina haja o correspondente de 0,25 litro do anidro”, completou o presidente da Unica que participou à tarde da aula inaugural da Universidade Corporativa do Setor Sucroenergético (Uniceise), em Sertãozinho (SP).
Jank ressaltou que as negociações já começaram e que hoje esteve no Rio de Janeiro para conversas com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP) sobre o assunto. O executivo cobrou o envolvimento de outros elos da cadeia produtiva, principalmente as distribuidoras, na contratação de etanol anidro suficiente para a mistura à gasolina. “É preciso que as distribuidoras se responsabilizem pela contratação conjugada de anidro à gasolina para terminarmos a safra com garantia de que não haverá falta de anidro na entressafra”, ressaltou.
O presidente da Unica citou, ainda, a ampliação de usinas e de áreas de produção de cana como outras medidas de curto prazo para ampliar a oferta de etanol, mas admitiu que elas são insuficientes diante da demanda estimada de carros flex. “No curto prazo, o setor consegue ampliar a capacidade de processamento, hoje em 640 milhões de toneladas de cana, para até 960 milhões de toneladas de cana até 2020”, disse Jank. No entanto, na avaliação do setor, o crescimento até o final da década, de 320 milhões de toneladas de cana, seria menor que as 400 milhões de toneladas necessárias para suprir a demanda.
A lacuna de 80 milhões de toneladas de cana seria ocupada pelos novos projetos de usinas, que são inviabilizados, na avaliação de Jank, pelo custo de produção da cana sem margem em relação ao preço de etanol. “Como fazer essa ampliação a um custo de US$ 140 ou R$ 250 por tonelada de cana e com as margens desaparecendo?”, indagou. “É só ir ao BNDES pedir financiamento e perguntar se é viável produção de greenfields (novos projetos) com esse custo e ele (o banco) vai dar resposta que não”, completou.
BR Distribuidora
Jank criticou ainda a decisão da BR Distribuidora, empresa da Petrobras, em tornar público o anúncio de redução de até 13% no preço do etanol hidratado nas bombas. Segundo ele, a queda dos preços aos consumidores é natural, já que nas usinas o recuo do etanol já havia acontecido. “Não era necessário o anúncio, porque os preços já caíram nas usinas”, disse. Segundo ele, esse recuo já poderia ter sido antecipado ao consumidor. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) apontam uma queda acumulada de 33% no preço médio do etanol comercializado entre usinas e distribuidoras em São Paulo em pouco mais de 20 dias, com o início da safra.
Fonte: Estado de SP, em 13/05/2011