A Petrobras deverá ser uma das principais indutoras do transporte ferroviário no país, utilizando as estradas de ferro atuais e aquelas em construção para apoiar as operações da BR Distribuidora, sua companhia de logística de combustível. O exemplo mais concreto dessa inclinação são as ações da empresa em torno da Ferrovia Norte-Sul, em construção pela estatal Valec.
O Valor apurou que a petroleira tem mantido conversas regulares com a diretoria da Valec com o propósito de analisar alternativas mais competitivas para que a BR Distribuidora aprimore a entrega de combustível no país, seja por meio de sua malha ferroviária ou dos pátios logísticos que alimentam essas linhas de trem. O primeiro passo da estratégia acaba de ser dado. A BR Distribuidora venceu uma licitação feita pela Valec para a construção de um pátio de distribuição de combustíveis em Palmas (TO). A construção do centro de distribuição, avaliada em R$ 230 milhões, deve ter início nos próximos dias. O local, segundo a assessoria do governo do Tocantins, deverá atrair ainda outros 20 empreendimentos no seu entorno ferroviário.
“Esse é o primeiro grande projeto que fechamos com a Petrobras. Dado o interesse da companhia nas ferrovias, estamos certos de que outros estão a caminho”, disse o presidente da Valec, José Francisco das Neves.
Por meio de nota, o presidente da BR Distribuidora, José Lima de Andrade Neto, afirmou que o pátio intermodal ferroviário de Palmas “é um importante projeto de integração nacional que trará ganhos significativos para o desenvolvimento econômico da região.” Segundo Andrade Neto, o projeto “vai assegurar um melhor posicionamento logístico” no Tocantins e “aperfeiçoamento do nível de atendimento” ao mercado. “Até a conclusão das obras, deverão ser gerados cerca de 1 mil empregos, entre diretos e indiretos”, afirmou o executivo.
A BR Distribuidora tem acompanha de perto as discussões sobre a nova regulação do setor ferroviário, que deve ser publicada pelo governo em julho. A empresa tem especial interesse na proposta de compartilhamento da infraestrutura em construção pela Valec, mas também está de olho na rede utilizada atualmente pelas concessionárias, as quais detêm exclusividade nos trechos onde atuam.
O projeto do governo federal prevê que as novas ferrovias da Valec sejam oferecidas em regime compartilhado. Aquelas já concedidas, no entanto, enfrentam forte resistência das companhias que controlam esses trechos. Na Ferrovia Norte-Sul, por exemplo, parte da malha que está em operação já foi concedida em 2007 à Vale, sob o modelo antigo. Essa concessão atinge um trecho de 720 quilômetros, dos 1.574 quilômetros que a ferrovia terá em operação, até outubro. Isso significa que, se BR Distribuidora quiser transportar seu combustível no trecho completo – que liga a cidade de Açailândia, no Maranhão, a Anápolis, em Goiás -, terá de negociar sua passagem com a Vale.
Em uma recente audiência pública realizada em Brasília para debater as novas regras do setor ferroviário, representantes da BR Distribuidora levantaram uma série de questionamentos sobre o projeto do governo.
Atrasada, a malha da Norte-Sul tinha previsão de ser concluída em julho de 2010, mas uma série de adiamentos – provocados por suspeitas de irregularidades apuradas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ações do Ministério Público, questões ambientais e excesso de chuvas – colocou a obra na berlinda. Um dos projetos mais caros do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Norte-Sul já recebeu investimento de aproximadamente R$ 5,7 bilhões entre 2007 e 2010. A previsão é de que mais R$ 3,1 bilhões sejam aplicados este ano, somando R$ 8,8 bilhões.
A vocação para o transporte de combustível não é novidade. A ferrovia, que já transporta minérios e grãos no trecho da Vale, sempre teve como inspiração o carregamento de etanol e outros combustíveis. Nos planos sobre o potencial logístico da Norte-Sul, a Valec tem como previsão a construção de 42 usinas de etanol e biocombustíveis ao longo da ferrovia. Há a expectativa de que 24 usinas sejam erguidas em Tocantins, 11 em Goiás e sete no Maranhão, com potencial para produzir 180 milhões de litros de álcool por ano, investimentos que poderão movimentar R$ 14 bilhões.
Fonte: Udop, em 21/06/2011