Cana terá quebra de 8,39% nesta safra

A safra de cana-de-açúcar deste ano no centro-sul do país terá quebra de 8,39% em relação à do ano passado.

Isso deverá antecipar o encerramento da colheita, aumentar a entressafra e desabastecer o mercado.

Serão 46,71 milhões de toneladas a menos para moer do que o esperado para esta safra, de acordo com a nova projeção da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), divulgada ontem.

A nova projeção indica uma safra de 510,24 milhões de toneladas, ante a previsão inicial de 556,95 milhões.

Segundo Maurilio Biagi Filho, conselheiro da Unica, as usinas do centro-sul, em especial as da região de Ribeirão Preto, vão antecipar o fim da colheita em até três meses. O usual é acabar no início de dezembro.

A última vez que algo assim aconteceu foi em 2000, quando houve quebra superior a 20% da produção -ou 60 milhões de toneladas à época.

"Houve uma queda de preços, refletindo na falta de investimentos em renovação da cana e, consequentemente, menos produto para moer", disse Biagi Filho.

Um estudo da USP de Ribeirão, divulgado em abril pela Folha, indicou a necessidade de 15 novas usinas por ano para cobrir a demanda por etanol.

Segundo o professor responsável pelo estudo, Marcos Fava Neves, o deficit anual de etanol no país é de 5 bilhões de litros. A quebra anunciada ontem piora ainda mais as perspectivas do setor.

O encerramento antecipado da colheita vai levar a entressafra de seis meses, pressionando a inflação.

O álcool ficará mais caro por falta do produto e consumidores de carros flex migrarão para a gasolina, que já está mais cara por conter álcool em sua composição, segundo Sergio Torquato, coordenador de cana do IEA (Instituto de Economia Agrícola).

Para Neves, haverá desabastecimento interno. "Teremos que importar gasolina e etanol dos EUA e haverá pressão nos preços."

Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), do Rio, considera que o governo deverá administrar o estoque de passagem da entressafra para minimizar o impacto.

"Os preços continuarão elevados nos próximos três anos", afirmou Pires.

Ele disse que será preciso avaliar o cenário mundial, que está entrando em uma crise econômica, e o aquecimento interno do consumo. "Se o preço do petróleo cair, pode ser mais vantajoso importar gasolina do que álcool", disse Pires.

PRODUTIVIDADE

A cana também está rendendo menos por hectare na safra atual. A produtividade no acumulado deste ano caiu 20%, se comparada ao mesmo período do ano anterior.

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