Diante dos sinais de que a safra de cana-de-açúcar do Centro-Sul do país poderá cair abaixo de 500 milhões de toneladas, o mercado começou a corrigir para cima suas projeções para os preços domésticos do etanol, que nas usinas de São Paulo já estão 44% mais altos do que em igual período de 2010.
Somente na semana passada, tanto as cotações do etanol anidro (misturado à gasolina) quanto as do hidratado (usado diretamente nos tanques) subiram 4,9% nas usinas paulistas, conforme os respectivos indicadores do Cepea/Esalq.
Segundo Alísio Mendes Vaz, presidente executivo do Sindicato Nacional dos Distribuidores de Combustíveis (Sindicom), a situação obriga a uma nova avaliação sobre uma eventual mudança no percentual de mistura do anidro na gasolina, atualmente em 25%. Ele afirma que o grupo de monitoramento dos estoques de etanol integrado por representantes dos segmento de distribuição e produção de etanol, além do governo, vai discutir o assunto agora em setembro.
Na média do Estado de São Paulo, maior centro consumidor de combustíveis do país, o litro do etanol nos postos ainda está vantajoso em relação à gasolina. Equivale, em média, a 67,5% do preço do combustível fóssil, quando o "limite" é 70% A viabilidade se estende aos Estados de Goiás e Mato Grosso, com uma relação de 64,4% e 61,9%, respectivamente, segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP) referente à semana encerrada na última sexta-feira.
No entanto, diz Vaz, é provável que nos próximos dias distribuidoras e postos de combustíveis comecem a repassar essa alta recente dos preços do etanol ocorrida nas usinas nas últimas semanas. Ontem, o indicador Cepea/Esalq para o hidratado posto em Paulínia (SP) registrou alta de 0,75%, com o metro cúbico a R$ 1.284,50. Em agosto, o indicador acumula valorização de 8,67%.
Esse repasse é necessário para frear o consumo, que reagiu para cima em agosto. Ainda sem estatísticas oficiais, o Sindicom estima que as vendas semanais de etanol neste mês superaram em 10% a comercialização semanal registrada em julho. "Houve um aquecimento da demanda que deve ser estancada com o repasse de preços da usina para o consumidor", diz Vaz.
Assim, a tendência é que o etanol perca vantagem em relação à gasolina também no Estado de São Paulo. O presidente da maior comercializadora de etanol do país, a SCA Trading, Martinho Seiiti Ono, acredita que haja espaço para aumento nos preços nas bombas de até R$ 0,10 por litro. Se isso ocorrer, diz Seiiti Ono, há grandes chances de haver queda abrupta do consumo, sobretudo no Estado de São Paulo. A situação pode redundar até em nova queda dos preços do etanol na usina. As recentes altas, segundo ele, foram "precipitadas", uma vez que neste momento as usinas do Centro-Sul encontram-se na entressafra da cana.
Miriam Bacchi, a pesquisadora do Cepea e professora da Esalq, nota que, apesar de o preço do etanol hidratado no Estado de São Paulo estar próximo do limite competitivo de 70% do preço da gasolina, há várias razões que fazem com que o consumidor não adote de forma linear essa referência e não deixe o etanol de lado. "Alguns não fazem conta. Outros, têm veículos cujo rendimento do etanol é superior a 70% do rendimento da gasolina e chega a 75% ou 78%. Há aqueles, ainda, que estão conscientizados dos benefícios do etanol ao meio ambiente", resume a pesquisadora.
Para Tarcilo Rodrigues, diretor da comercializadora Bioagência, há poucas chances de os preços do etanol voltarem a recuar. "O movimento daqui em diante é de estabilização ou alta. É muito improvável que haja queda", diz.
Por enquanto, Rodrigues não identificou alteração na demanda por importação de etanol dos Estados Unidos. Desde abril até agora, segundo levantamento da Bioagência, 190 milhões de litros do biocombustível foram importados e entraram no país. Até março do ano que vem já estão contratados mais 600 milhões de litros do mercado externo.