Por incrível que pareça, os Estados Unidos devem superar o Brasil nas exportações de etanol neste ano -segundo consultorias internacionais, espera-se que as exportações americanas alcancem 2 bilhões de litros, enquanto as brasileiras não devem passar de 1,6 bilhão de litros.
Ao mesmo tempo, a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) teme o fracasso dos carros flex. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), no sábado passado já não era mais vantajoso abastecer com etanol em quase todos os Estados (as exceções eram São Paulo, Mato Grosso e Goiás).
Com o tempo, a procura por carros flex pode mesmo diminuir, uma vez que os veículos movidos a um só tipo de combustível tendem a ser mais eficientes. Estão colocadas, portanto, as peças de um complexo jogo.
A Petrobras tem como política não repassar as altas e baixas de preços no mercado externo ao consumidor brasileiro.
Resultado: a gasolina vendida no país não é reajustada desde 9 de junho de 2009, mesmo com o petróleo tendo atingido picos de alta desde então -atualmente, a gasolina vendida pela Petrobras está cerca de 9% mais barata que a negociada no mercado internacional. Ao mesmo tempo, o custo de produção de etanol é elevado, com a competição por terras de forma cada vez mais agressiva, haja vista que o preço das demais commodities agrícolas no mercado internacional teve alta expressiva nos últimos anos.
Não é só isso. Mesmo dentro da própria cultura da cana-de-açúcar, a competição é intensa -produzir açúcar ou álcool anidro (que é adicionado à gasolina) pode ser muito mais vantajoso economicamente.
Portanto, é difícil o investidor privado ter interesse no direcionamento de recursos ao setor, apesar de suas potencialidades enormes no longo prazo -ainda mais com o fim da taxação, nos Estados Unidos, sobre as importações de etanol. A Petrobras vem mostrando interesse em ampliar sua participação no setor. Atualmente, a companhia responde por 5,3% da produção nacional de etanol, mas a meta é chegar a 12% em 2015.
Exemplo desse esforço é a expansão da usina Boa Vista, pela joint venture entre a Petrobras Biocombustíveis e o grupo São Martinho, que se tornará a maior usina de etanol de cana do mundo.
Mas, novamente, de nada adiantará esse esforço se não houver incentivos para a produção pelo setor privado. A margem de lucro, cada vez mais comprimida, pode, eventualmente, levar ao encolhimento do setor, no momento em que ele mais deveria crescer. E, de quebra, a notícia não é nada boa para a inflação, pois a tendência é que os preços do etanol continuem em alta.
Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP