Vilões em boa parte da poluição emitida nas cidades e estradas, os caminhões começam a incorporar tecnologias verdes que vão ajudar a melhorar a atmosfera. Os veículos movidos a diesel que serão produzidos no País a partir de janeiro vão emitir 60% menos óxidos de nitrogênio (NOx) e 80% menos partículas em relação aos modelos vendidos atualmente.
Paralelamente, os fabricantes transferem para os caminhões tecnologias já adotadas nos automóveis, como a flex (nesse caso, etanol e diesel) e a híbrida (diesel-hidráulica) e desenvolvem sistemas para uso de 100% de etanol e biocombustíveis de diferentes matérias-primas.
Além de menos poluentes, os caminhões brasileiros serão mais seguros. A partir de 2014, todos terão de sair da linha de montagem equipados com freio ABS, mesma exigência para os automóveis. Tecnologias já em uso na Europa e EUA estão sendo incorporadas aos veículos brasileiros. Alguns têm sistemas que avisam o motorista se ele dorme ao volante ou se queima a faixa da estrada e acionam o freio automaticamente em emergências.
A revolução dos caminhões é lenta no País principalmente por causa da barreira dos custos. O Actros, veículo da Mercedes-Benz para transporte de grandes cargas que vem com itens como radar de distância segura do veículo à frente, aviso sonoro de sonolência e leitura de faixas, custa hoje R$ 466 mil na versão importada. A partir de 2012, será produzido em Juiz de Fora (MG).
No caso dos combustíveis, a aplicação da norma de emissões do Proconve, chamada de P7 ou Euro V, vai resultar num aumento médio de preços de 10% a 15%. Só para comparar, serão necessários 24 caminhões com Euro V para emitir a mesma quantidade de NOx e partículas de um único caminhão fabricado até 1987.
O caminho para resultados efetivos ainda é longo. Dos cerca de 2,2 milhões de veículos em circulação no País, 616 mil têm motores antigos, sem qualquer sistema de tratamento de emissões, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
A opção dos veículos híbridos, a etanol ou com maior mistura de biocombustível pode ajudar a encurtar o caminho. "Há avanços fantásticos no Brasil como o diesel de cana e o sistema híbrido diesel-hidráulico", diz Luso Ventura, diretor da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil).
Mais opções. A Fenatran, feira do transporte realizada recentemente em São Paulo, foi palco de demonstração de algumas dessas opções. A MAN/Volkswagen apresentou o Constellation Híbrido, com sistema que armazena, em acumuladores hidráulicos, a energia coletada durante a frenagem, usando-a posteriormente na partida do veículo. Ainda um conceito, deverá ser futuramente aplicado em operações em que o veículo anda e para com frequência – como, por exemplo na coleta de lixo.
A MAN também apresentou uma tecnologia bicombustível para caminhões, chamada de dual fuel, que mistura diesel e etanol. O veículo tem dois tanques, um para cada tipo de combustível. Com o Trakker bifuel, a Iveco desenvolveu sistema similar para ser usado principalmente em veículos fora de estrada que operam em canaviais e mineração. "A mistura do etanol e do diesel é feita pelo sistema de injeção", explica o diretor de comunicação, Marco Piquini.
A Mercedes-Benz, que já testa diesel feito da cana de açúcar em uma frota de ônibus em circulação em São Paulo e no Rio, começa a testar seu uso em caminhões. Já a novidade da Scania é um caminhão 100% movido a etanol, que tem desempenho equivalente ao movido a diesel, mas emite 90% menos CO2.
Luso lembra que as novas tecnologias para os caminhões vêm evoluindo há vários anos, mas poucas "vingaram no sentido prático", até agora, em razão dos custos. Algumas, porém, podem ter sucesso se aplicadas em nichos específicos, como em usinas, no caso do veículo a etanol.
Ele também defende um processo de renovação da frota, paralelamente à introdução dos novos veículos. Segundo estudo do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), a frota brasileira de caminhões tem idade média de 9 anos e 10 meses. "A frota residual, aquela mais antiga, tem ainda muito peso nas emissões", diz Luso.