O vencimento de patentes de medicamentos nos últimos anos, e a consequente queda de preços nesse mercado, deixou o consumo do setor em efervescência. Atentas à maior demanda, também influenciada pelo alto poder aquisitivo da população, companhias de logística têm procurado pegar carona na expansão do setor.
Para mapear as oportunidades, a operadora logística de origem alemã DHL fez uma pesquisa sobre o assunto em quatro países – Estados Unidos, Canadá, México e Brasil. Em todos eles, a companhia identifica boas perspectivas para a terceirização no setor. Os medicamentos são um mercado prioritário para a companhia atualmente. Com 16% de participação no faturamento global, o segmento só fica atrás de varejo, que representa 27% das receitas; e de consumo (20%).
No Brasil, segundo o estudo da companhia, as oportunidades se multiplicam devido ao "complexo" ambiente regulatório. Segundo o estudo da DHL, o sistema brasileiro torna mais interessante aos fabricantes entregarem os produtos diretamente a varejistas, sem passar por atacadistas e distribuidores – graças ao corte de custos.
"Em geral, terceirizar a logística baixa os custos porque a empresa passa a responsabilidade de gestão e transporte de estoques para companhias especializadas no assunto, que conseguem otimizar a operação", diz Rogério Mansur, diretor de operações da DHL Supply Chain no Brasil. A empresa tem como objetivo um crescimento orgânico entre 5% e 8% ao ano nos próximos anos nesse mercado.
Ao lado da gigante DHL, com € 51 bilhões de faturamento em todo o mundo, companhias menores também buscam um posicionamento mais forte no setor. É o caso da Atlas, que registrou R$ 386 milhões de receita líquida no ano passado. "É um mercado com tendência de crescimento inegável. Quem não estudou o mercado já começa a estudar", diz Lauro Felipe Megale, diretor de planejamento da empresa.
Hoje, 25% a 30% do faturamento total da Atlas é oriundo do setor farmacêutico – que é a área que mais gera receitas para a companhia. O objetivo é que o faturamento do setor cresça cerca de 20% neste ano.
Para Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), a dificuldade da operação logística de medicamentos é um incentivo à terceirização. Segundo ele, em muitos casos a carga é delicada e precisa ser entregue com rapidez, além de exigir particularidades como temperatura baixa dos medicamentos. Em geral, os estoques das fabricantes são geridos pela própria empresa ou por uma operadora logística especializadas. Depois disso, seguem para transporte terceirizado. A carga é destinada direto para as grandes redes ou para as distribuidoras, que geralmente costumam entregar a carga às farmácias independentes.
Às tradicionais dificuldades para a operação logística de medicamentos se soma uma mais recente: o crescimento do consumo na região Nordeste. Como atualmente a maior parte dos fabricantes está em São Paulo e no restante da região Sudeste, a maior complexidade do transporte torna ainda mais atrativa a terceirização. "As operações não são o negócio principal da companhia. É mais lógico que a empresa terceirize o serviço para alguém especializado", diz Mussolini.
Segundo a Associação Brasileira do Atacado Farmacêutico (Abafarma), o Nordeste ocupa hoje o segundo lugar no total de medicamentos distribuídos, com participação de 17,3%. As associações do setor não possuem dados sobre a participação da terceirização na cadeia logística de medicamentos. Nos EUA, seis dos 10 maiores fabricantes já repassaram a logística a companhias especializadas, segundo o estudo da DHL.