Os principais ministros petistas decidiram utilizar seu trânsito com o Legislativo e entrar em campo para auxiliar o Palácio do Planalto a esfriar o ambiente político e buscar uma saída para a crise entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.
Já na noite de quarta-feira, após um dia de muitas derrotas da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, os ministros Alexandre Padilha (Saúde), Aloizio Mercadante (Educação), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), José Eduardo Martins Cardozo (Justiça) e Paulo Bernardo (Comunicações) armaram um plano de ação política do governo para intervir na crise.
No grupo há um ex-ministro das Relações Institucionais do governo Lula (Padilha), três ex-parlamentares (Bernardo, Cardozo e Mercadante) e um ex-prefeito de uma grande capital (Pimentel, de Belo Horizonte). Eles asseguraram que irão pedir a deputados para aprovar a Lei Geral da Copa o quanto antes, como quer a presidente Dilma Rousseff. Os ministros vão buscar diálogo e negociação. Começaram, também na quarta-feira, a atender parlamentares nos gabinetes das lideranças do governo, inclusive na do Senado Federal. Mercadante já despachou no gabinete do líder Eduardo Braga, e outros farão o mesmo.
A contrapartida a essa operação também está sendo negociada. O governo poderá ceder à bancada ruralista e, mais do que marcar uma data para a votação do Código Florestal, abrir prazo para negociar alguns pontos do texto aprovado pelos senadores. 0 No PT, a estratégia é convencer a presidente a abrir o diálogo.
Isso vale tanto para a nova coordenação política na Câmara, comandada pelo líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), como para o grupo que foi substituído, liderado pelo ex-líder do governo Cândido Vaccarezza (PT-SP).
A diferença entre ambos é que o grupo de Chinaglia quer aprovar a Lei Geral sem oferecer a garantia da data para votar o Código. O de Vaccarezza, ao contrário, vai além e avalia que deve ser oferecida também uma data. E, se o governo não concordar, os ruralistas devem ser estimulados a forçar a votação independentemente de o governo querer ou não que ela aconteça. A força para isso foi demonstrada anteontem.
O receio na maioria do PT é que retardar o Código pode ser crucial não só para as ambições do partido, como também para o governo. Primeiro porque paralisa o Congresso e faz aglutinar em um assunto todas as insatisfações da base, disposta a retaliar o Palácio do Planalto. Segundo, é que deixar o Código para depois da conferência ambiental Rio+20 soa para os ruralistas uma tentativa de enganação, já que entre junho e novembro a produção legislativa será praticamente nula.
Além disso, com as urnas abertas e o PT consagrado como sigla que deu o maior salto no número de prefeituras – previsão unânime entre os aliados – não mais será o Código o único fator de retaliação. Serão as composições para a sucessão presidencial. E com ela virá o temor de que a base se transfira para uma terceira via que surja a partir das eleições municipais, como o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, por exemplo.
A expectativa do PT era de consolidar seu projeto de hegemonia durante o governo Dilma, estendendo-a também a níveis estaduais e, mais especificamente neste ano, municipais. Para isso a presidente deveria ter com o partido, segundo a pretensão do PT, relação semelhante à que lhe dedicava o ex-presidente Lula.
Não só a presidente não correspondeu às expectativas como, ao nomear a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, desagradou boa parte do partido que com ela não tem diálogo.
Na Casa Civil, Gleisi Hoffmann nem sequer lida com a política, afirma um líder de destaque no PT. À chefe da Casa Civil o partido atribui trapalhada na negociação da Lei Geral da Copa.
O projeto de hegemonia petista, portanto, segundo esta avaliação interna no partido, foi sustado. "A relação com os Estados está ruim e com os municípios pior ainda. Sem falar de outros setores, como sindicalistas, empresários e Judiciário", diz o líder petista.
Mesmo com esta análise que, segundo o político petista, é dominante no partido, não há intenção de no momento pressionar pela saída das ministras Gleisi e Ideli. Isso seria "suicídio político" no momento de maior tensão política do governo Dilma, reconhecem. Porque admite-se, no PT, que, se Dilma naufragar politicamente, o PT vai junto.