Para Mantega, aumento no preço de gasolina não atrapalha ninguém

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse ontem que o reajuste dos combustíveis é "uma pequena correção, que não vai atrapalhar ninguém". Para ele, a gasolina subirá em média 4,4% nos postos.

Em 9 de 17 postos de São Paulo visitados ontem, o combustível já tinha sofrido reajustes, que variavam de 3,6% a 3,9% na maior parte -em um, a alta foi de 7,6%.

Consultorias, bancos e entidades do setor de combustíveis estimam alta de 4% a 5,3% nos preços nos postos.
Já o o presidente do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Estado de São Paulo), José Alberto Gouveia, acredita que a alta no Estado seja de 4,8%.

LUZ x GASOLINA

O momento escolhido para o reajuste dos combustíveis, concentrando-o em fevereiro, reduz seu impacto no IPCA (índice oficial), que deve ceder àmetade da taxa prevista para janeiro graças à redução da tarifa de energia e de altas mais moderadas de alimentos, dizem analistas.
Um indicador disso foi o fato de autorizar o aumento em 30 de janeiro, quando a coleta de preços do IPCA do mês já estava encerrada.
Segundo Elson Teles, analista do Itaú, o governo definiu o reajuste após a redução nas tarifas elétricas e parece ter optado pela data para "não entrar nada" no índice de janeiro.

Consultorias estimam que a alta dos combustíveis tenha um impacto de até 0,19 ponto percentual na inflação (Mantega fala em 0,16 ponto), enquanto a redução da conta de luz deve reduzir o índice em cerca de 0,65 ponto.

FRETE MAIS CARO

Já o setor de transporte de carga rodoviária calcula que o reajuste do diesel leve a um aumento de custo de R$ 3,6 bilhões neste ano. O segmento transporta 58% de tudo o que é movimentado no país.

Em média, o combustível tem peso de 28% no custo do transporte rodoviário de carga. No agronegócio, o peso é ainda maior: no transporte de commodities agrícolas, como a soja e o milho, o óleo diesel chega a representar 43,5% no custo final da operação.
Segundo a Esalq-Log, que estuda logística do agronegócio, o impacto é estimado entre 1,5% e 1,7%.

"Dizer que esse reajuste não impacta no transporte é um deboche", afirmou o dono da Bergamaschi, uma das maiores transportadoras do país. Segundo ele, as empresas serão prejudicadas porque, num setor competitivo, não conseguirão repassar rapidamente o custo maior.

MAIS ÁLCOOL

Para tentar atenuar o impacto do combustível mais caro na inflação, Mantega acertou ontem a antecipação para maio do aumento da mistura de álcool, de 20% para 25%, após reunir-se com o setor sucroalcooleiro e com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
A medida, prevista inicialmente para junho, reduz o preço porque o álcool é mais barato -embora seu preço também suba quando a gasolina sofre reajustes.

Lobão afirmou que os representantes das usinas "garantiram de mãos juntas" que serão capazes de elevar a produção. "Se não der conta, nós vamos ampliar o prazo para primeiro de junho. Mas o setor garante que vai produzir [etanol suficiente]."

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