Menor moagem de cana poderá limitar queda dos combustíveis

A moagem de cana neste ano está 39,5% abaixo da safra passada e pode frustrar o governo em sua expectativa de queda nos preços dos combustíveis. Já houve redução nos preços do etanol nos postos, mas não a ponto de tornar o combustível mais vantajoso que a gasolina na maioria dos Estados.

A queda da colheita também atrapalha os planos do governo de conter a escalada da inflação, pressionada pela alta dos combustíveis neste semestre.

Desde o início da safra 2011/2012, a moagem totalizou 56,66 milhões de toneladas, ante 93,67 milhões registradas no mesmo período de 2010, segundo dados da Unica (União da Industria de Cana-de-Açúcar).

Essa queda foi provocada por fat ores climáticos desfavoráveis, que atrasaram a operação das usinas, e também por conta da redução da produtividade dos canaviais, cujas plantações têm em sua maioria pés de cana velhos.

Além disso, a cana colhida está com mais fibras e menos sacarose, o que reduz sua produtividade. O governo pretendia adotar medidas de regulagem dos preços na entressafra, a partir de outubro.

Dentre elas, a formação de estoques pela Petrobras. Sem a oferta necessária, não será possível a estocagem. Uma possível linha de financiamento do BNDES para ampliação de lavouras e usinas também está em estudo.

Para o presidente do Sindicom (Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis), Alísio Vaz, com a menor produção de cana, o consumo de álcool hidratado terá que diminuir. Isso garantirá o abastecimento de álcool anidro, que é misturado à gasolina.

Esse recuo no consumo do álcool vendido nas bombas terá de ser forçado pela alta de preços dos produtos.

No ano passado, o consumo de álcool ca iu 9%. Vaz prevê que a redução em 2011 será ainda maior. Ele explicou que uma safra mais tímida já era esperada, mas que os números da Unica confirmam que o abastecimento de álcool não será tranquilo.

IMPORTAÇÃO

A menor oferta de álcool atinge também a Petrobras. A falta do produto fez a estatal importar 2,5 milhões de litros de gasolina somente nesse ano, para atender ao crescente consumo.

A importação foi feita no ápice dos preços do barril de petróleo no mercado internacional, na faixa de US$ 120 (tipo Brent). O combustível comprado no exterior é mais caro, impactando a balança comercial da empresa. Com a safra de cana num patamar menor, a empresa deverá arcar mais uma vez com o mesmo problema, quando a entressafra de álcool chegar.

“Enquanto novas refinarias não ficarem prontas, a empresa tem de recorrer ao mercado externo quando houver picos de consumo”, explicou um técnico da Petrobras à Folha.

Para o representante da Unica em Ribeirão Preto, Sergio Prado, é cedo para fazer previsões quanto à safra de cana atual. “Ela pode se recuperar nos próximos meses”.

Fonte: Folha de SP, em 30/05/2011

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