A pressão da Califórnia para reduzir as emissões de combustíveis na próxima década poderá incentivar investidas americanas no mercado brasileiro de etanol.
O “Golden State”, como é conhecida a Califórnia, tenta reduzir a intensidade de carbono nos combustíveis usados em meios de transporte em pelo menos 10% até 2020. Assim, as distribuidoras de combustíveis no Estado serão obrigadas a usar mais biocombustíveis, à medida que o conteúdo permitido de carbono cai.
Como o etanol de cana-de-açúcar – o tipo produzido no Brasil – é o combustível disponível comercialmente com menor intensidade de carbono, a demanda californiana pelo produto deverá subir, o que pode reordenar a geopolítica dos biocombustíveis e resultar em preços de combustíveis mais altos para os californianos.
Importar grandes quantidades de etanol pode representar um importante afastamento dos esforços multibilionários dos Estados Unidos para, em nome da independência energética, desenvolver o setor de etanol de milho. Mas o etanol de cana tem melhor reputação ambiental que o etanol de milho, cuja produção exige muita energia para produzir e provoca mais impacto na oferta de alimentos.
Grande parte do etanol de milho produzido nos EUA não poderá ser vendida na Califórnia após 2012. Os EUA trabalham para conseguir produzir etanol a partir de algas, lascas de madeira e outros materiais não alimentícios, mas a tecnologia ainda não está pronta para produção em massa.
A Califórnia é o maior consumidor de etanol no país, com 1,3 bilhão de galões (4,92 bilhões de litros) por ano. Isso representa uma imensa oportunidade comercial para os produtores de etanol de cana, afirmou Mike McDougall, da corretora de commodities Newedge, que negocia etanol e açúcar brasileiros. “Isso é aguardado ansiosamente pelas usinas no Brasil”, disse, sobre os novos padrões de combustível na Califórnia.
Qualquer fluxo de etanol brasileiro aos EUA reordenaria o desenho atual do intercâmbio comercial. O Brasil importou 170 milhões de litros de etanol em abril, sendo 80% dos EUA, para ajudar a saciar o apetite de sua crescente classe média por automóveis que funcionam integralmente a álcool. A produção no Brasil segue estagnada, com o aperto no crédito dificultando a expansão do setor.
Caso seja necessário que as refinarias dos EUA usem o etanol brasileiro, isso pode ser o início de um padrão “ridículo” de comércio internacional de combustíveis limpos, afirmou Geoff Cooper, vice-presidente de pesquisa e análise da Associação de Combustíveis Renováveis, grupo setorial de produtores de etanol nos EUA.
“Sob um cenário plausível, poderíamos ver uma situação em que os EUA exportam seu etanol ao Brasil para atender seu mercado e Brasil exporta seu etanol à Califórnia para que fique em conformidade com o combustível de pouco carbono”, disse Cooper.
Recentemente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) comprometeu-se a financiar a duplicação da produção de etanol de cana no Brasil. Embora isso possibilite maior disponibilidade de etanol para exportação aos EUA, também pode aumentar os receios inflacionários no setor, já que haverá mais dinheiro disponível para projetos e traders, dentro e fora do país, concorrerem pelo mesmo combustível, elevando os preços, afirmou Juliano Ferreira Neto, analista da corretora ICAP Brasil. Nesse caso, as tarifas de importação aplicadas pelos EUA poderiam ser substituídas por impostos à exportação, pelos brasileiros, disse.
Caso as refinarias californianas acabem pagando mais pelo etanol brasileiro para cumprir as regras estaduais, quem sentirá a fisgada serão os motoristas, disse Bill Day, porta-voz da Valero Energy Corp., maior refinaria independente dos EUA. “Os californianos vão pagar bastante pelo combustível”, disse.
Fonte: Udop, em 16/06/2011