O setor sucroalcooleiro vai demorar pelo menos três safras para reocupar a capacidade industrial das usinas do Centro-Sul, atualmente de 630 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que está ociosa em pelo menos 100 milhões de toneladas.
A crise econômica mundial e dois anos de clima adverso ( alternando extensos períodos de chuva com estiagem) foram suficientes para reduzir a produção de cana da região para 533,5 milhões de toneladas, de acordo com a mais recente estimativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar.
"Serão necessários investimentos de R$ 6 bilhões apenas no plantio de cana para que o setor opere com capacidade plena", explica o diretor de Alexandre Figliolino, diretor comercial especializado no setor sucroalcooleiro do Itaú BBA.
Embora muitas empresas já estejam investindo na ampliação de seus canaviais, estes aportes não apresentarão resultado no curto prazo. A variedade de cana-de-açúcar com menor prazo de maturação demora 12 meses para ser colhida.
"Está havendo um esforço grande de reforma de canaviais. Todos os grupos estão investindo em cana", afirma o presidente da Datagro Consultoria, o economista Plínio Nastari. Empresas como Raízen, São Martinho, Guarani, Bunge e Shree Renuka anunciaram recentemente investimentos expressivos na recomposição de seus canaviais.
Nastari lembra, no entanto, que a disponibilidade apertada de cana atual não é mais uma questão apenas financeira, mas também agronômica, fator que restringiu o plantio nas duas últimas safras. "Temos que sempre monitorar o clima", afirma.
Preços. Apesar dos investimentos dos produtores, o executivo adverte que o esforço será insuficiente para gerar um excesso de oferta capaz de afrouxar os atuais preços do açúcar e do etanol, que devem seguir elevados nos próximos três anos.
No caso do mercado interno do etanol, isso significa que as cotações não cairão para níveis muito baixos durante a safra, mas também não deverão subir de forma expressiva durante o período de entressafra.
O consultor avalia que a expansão da utilização do etanol no País vai voltar a crescer, mas de forma mais lenta. "Em 2010, o etanol já substituiu 44,5% da gasolina no Brasil, um valor que é excepcional. Nos Estados Unidos, o programa de etanol substitui apenas 10% da gasolina".
Segundo ele, a utilização do etanol como combustível vai ultrapassar os 50%, mas não há espaço para que um crescimento maior ocorra. "O preço da gasolina é um teto para o consumo do etanol e, enquanto o preço do etanol é volátil, os valores da gasolina seguem inalterados artificialmente há cinco anos". disse.
Cálculos do pesquisador Leonardo Zílio, do Centro de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), revelam que, de 2007 a 2010, os custos de produção agrícolas e industriais do etanol anidro subiram 35,13% em termos nominais.
Na prática, esses custos precisariam ser repassados para o consumidor para remunerar o produtor, mas, com o preço da gasolina sempre atuando como teto para o preço do etanol, a margem do produtor está desaparecendo. Zílio informa que, em 2010, o custo de produção de anidro estava em R$ 1,00 por litro.
Paralisação. Se as empresas estão investindo na ampliação de seus canaviais, investimentos em áreas totalmente novas estão praticamente paralisados. "Três novas usinas entrarão em operação nesta safra e para a safra que vem o número deve ser ainda menor", diz Nastari. Para os especialistas, o preço fixo da gasolina, entre outras razões, geram insegurança no setor para a construção de novas usinas.
O presidente da Bunge Brasil, Pedro Parente, disse, na semana passada, que o governo precisa tomar cuidado com medidas que possam desestimular os investimentos no setor de etanol do Brasil, como a gestão da mistura de anidro na gasolina. "Uma medida que parece boa no curto prazo pode criar problemas que prejudicarão o setor no longo prazo", disse ele.
Figliolino, do Itaú BBA, acredita que o setor precisa de uma sinalização firme do governo de que não vai intervir, para que os investidores se sintam seguros para voltar a investir em novas usinas. Segundo ele, estímulos mais fortes para a produção de energia elétrica através de cogeração de biomassa seriam, por exemplo, um sinal positivo para investidores.