Além dos efeitos da alta da taxa básica de juros, economistas estimam que a indústria brasileira seguirá sofrendo com a valorização do real, a despeito das medidas de compensação anunciadas anteontem pelo governo.
O IBGE informou que a produção industrial encolheu 1,6% em junho, o que surpreendeu economistas e provocou revisões nas expectativas para o PIB -que são os bens e serviços produzidos pela economia.
Segundo estimativas do Bradesco, o PIB deve recuar de uma expansão de 1,3% no primeiro trimestre (ante o trimestre anterior) para 0,8% no segundo trimestre.
No período seguinte, de julho a setembro, deve recuar ainda mais, segundo a LCA Consultores (0,5%). No ano, o PIB não crescerá mais que 3,4%, segundo a consultoria.
O economista-chefe do banco de investimentos Merrill Lynch, David Becker, baixou ontem sua estimativa de crescimento neste ano de 4,1% para 3,6%.
Em relatório, ele explica que a revisão foi feita "dada a surpreendentemente fraca performance da produção industrial e maior restrição monetária no segundo semestre", referindo-se aos efeitos dos juros e das medidas de contenção do consumo.
"Há dois meses, a dúvida era se as medidas do BC estavam surtindo efeito, se a economia iria desacelerar. Agora, temos certeza", afirma Fábio Ramos, economista da Quest Investimentos.
Com a concorrência de importados, a indústria começou mal o terceiro trimestre. Sondagem da FGV mostra que a confiança caiu pelo 7º mês. Estoques alcançaram maior patamar desde 2009, período da crise financeira.
Para o economista-chefe da MB associados, Sérgio Vale, apenas no último trimestre a indústria apresentará expansão: "A base de 2010 é muito baixa, dando possibilidade de um crescimento estatístico, não de retomada".