O consumo de álcool cresce à proporção de 5% ao ano, mas a produção está estagnada. Neste ano, as destilarias do Centro-Sul não devem oferecer mais do que 21 bilhões de litros, quebra de 17,25% sobre a produção de 2010.
A safra da cana-de-açúcar, matéria-prima do álcool e do açúcar, está no seu auge no Centro-Sul (80% da produção do País). E, no entanto, falta álcool. Os produtores já importaram neste ano 150 milhões de litros de álcool produzido de milho dos Estados Unidos para completar o abastecimento.
Há 5 anos não há renovação dos canaviais. A produção deve cair 8,4% neste ano em relação a 2010, para 510,2 milhões de toneladas. As causas imediatas são conhecidas: o plantio não cresce não há investimento nem em novas áreas nem no fortalecimento das culturas existentes. Afirmar que o clima não ajudou é fugir do coração do problema. A questão de fundo está nos custos de produção, que subiram e vão destruindo o maior argumento econômico a favor do etanol, produto não mais tão competitivo como era há alguns anos.
Os preços de mercado não ajudam, por não transporem a barreira da gasolina, cujos preços estão artificialmente estancados por decisão do governo. O álcool tem 70% da capacidade energética da gasolina. Ou seja, com o mesmo volume de álcool um carro flex roda 70% do que é capaz com gasolina. Significa que os preços do álcool ao consumidor não podem passar dos 70% dos preços da gasolina. Quando isso ocorre, o dono de um carro flex (40% do mercado) opta pela gasolina.
A atual relação de custos e preços está produzindo distorções também fora da cultura da cana e no setor sucroalcooleiro. Está também elevando o consumo físico de gasolina. Em 2010, foi 19% maior do que o de 2009; nos primeiros seis meses de 2011, já foi 6,6% maior. Por isso, a Petrobrás, que até 2009 exportava excedentes de gasolina, está sendo obrigada a abastecer-se no mercado externo. No ano passado, importou 505,1 bilhões de litros. Neste ano, essa importação pode subir 100%.
O último reajuste dos preços da gasolina no varejo foi em 2006, quando o barril de petróleo Brent, referência da Petrobrás, custava US$ 63. Hoje custa US$ 110. Mantega não admite o reajuste dos preços da gasolina e a redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), faixa de imposto embutida no litro de gasolina, por fazer política anti-inflacionária com o caixa da Petrobrás.
O represamento dos preços da gasolina corresponde a um subsídio próximo dos 20%, um pedaço da conta que não é pago pelo consumidor – é tirado do caixa da Petrobrás. Essa é uma das principais razões pelas quais a empresa perde capacidade de investimento com recursos próprios, como admite seu presidente, com alguma relutância para não contrariar seus chefes no governo.
Enfim, o represamento dos preços não está sangrando somente a Petrobrás. Está esvaziando o setor produtor de açúcar e álcool, um dos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro.