O rio Tietê, que em tupi significa caudal volumoso, nasce entre rochas em Salesópolis, na serra do Mar, a uma altitude de 1.100 metros. O Tietê tem quase 1.200 quilômetros de extensão e corta o Estado de São Paulo, incluindo a região metropolitana, até desaguar no rio Paraná, no município de Itapura, na divisa com o Mato Grosso do Sul. A importância histórica e econômica do Tietê para o Estado de São Paulo é enorme. Além do aproveitamento hidrelétrico, com barragens e usinas construídas em seu percurso, tem também grande relevância no transporte fluvial, com mais de 400 quilômetros de vias navegáveis.
Ao olharmos para uma fotografia do rio na primeira metade do século passado, é fácil constatar que o rio Tietê não apresentava sinais de poluição, tinha peixes, inclusive no trecho que banha a capital, sendo muito utilizado como área de lazer e esportes náuticos.
Com o desenvolvimento industrial, aumento populacional, baixa conscientização ambiental e ausência de investimentos em tratamento continuado, as águas límpidas do rio Tietê passaram a não mais suportar a carga de resíduos industriais e domésticos lançados em seu leito, principalmente na Região Metropolitana de São Paulo. Ele, lamentavelmente, foi transformado em esgoto a céu aberto nas últimas décadas. Algo precisava ser feito. Com base em um esforço combinado, unindo vários segmentos da sociedade, foi criado o Projeto Tietê a partir do debate ambientalista que se acentuou com a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro.
Com o apoio de várias camadas da população, diversos setores começaram a se mobilizar para a recuperação do rio, tornando o projeto um dos mais importantes na área ambiental no País. Foram aprovadas diversas ações, incluindo pesados investimentos, tanto pela área pública como pela iniciativa privada, com o objetivo de fazer o rio Tietê reviver. Ficaram a cargo do governo a construção de estações de tratamento de efluentes, ampliação da rede de captação de esgoto doméstico e sua transferência, por meio de dutos, até as áreas de tratamento. As mais de 1.200 indústrias dos setores químico, metalúrgico, de alimentos e outros, passaram a investir mais em tecnologia para a melhoria de processos, visando à redução de geração de resíduos líquidos e sólidos.
A atualização e melhoria da legislação, associadas ao crescente e constante monitoramento pela Cetesb, têm contribuído de forma importante para o sucesso do projeto. Em resumo, muito foi feito. Ao trafegarmos hoje pela via expressa da marginal do rio Tietê, é possível ver alguns resultados animadores, como canteiros com flores, árvores, enfim, vida às margens do rio. Mas muito mais tem que ser feito. O maior porcentual de resíduo lançado no rio Tietê, atualmente, é de origem doméstica. A rede de esgotos e de tratamento na grande São Paulo ainda não é suficiente para atender ao crescente volume de resíduos gerado diariamente pela população e precisa ser urgentemente ampliada.
Nos últimos anos, a indústria, em virtude dos investimentos realizados em tratamento de efluentes, reduziu significativamente o descarte de resíduo inorgânico. Como exemplo, é possível citar a iniciativa pioneira da indústria química, por meio do Programa Atuação Responsável, que vem contribuindo de forma decisiva para a melhoria contínua na área ambiental, conforme demonstrado pela evolução positiva dos indicadores divulgados anualmente pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Nos últimos cinco anos, as indústrias representadas pela Abiquim reduziram seu consumo de água em mais de 25% e a emissão de efluentes em cerca de 30%. Aumentaram em seis vezes o reciclo de efluentes e baixaram em 20% os resíduos sólidos gerados. Os dados relativos a 2007 serão conhecidos este mês no 12 Congresso de Atuação Responsável.
Estamos no caminho certo e todos na sociedade podem colaborar, pois cada ação positiva será importante na transformação do rio Tietê em um modelo de atitude ambiental. O governo precisa continuar a investir adequadamente em infra-estrutura; as indústrias devem buscar as melhores e mais eficientes tecnologias, reduzindo ao mínimo suas emissões ao ambiente, e a população precisa fortalecer a consciência ambiental, buscando, a cada dia, em cada ação, a preservação do meio ambiente em benefício de todos.
Fonte: Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 3) ANTONIO ROLLO* – Coordenador da Comissão Executiva do Programa Atuação Responsável)