A redução da mistura de álcool anidro à gasolina, de 25% para 20%, deve provocar novos prejuízos à Petrobras na área de refino.
A estatal, que já importou 3,1 milhões de barris de gasolina neste ano, terá de continuar comprando o combustível do exterior para abastecer o mercado doméstico.
Embora a empresa venha modernizando as suas refinarias e construindo novas unidades para aumentar a oferta, a sua produção de combustíveis não é suficiente para atender o país. Assim, a companhia exporta petróleo bruto e importa derivados.
Segundo cálculos do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), serão necessários 550 mil barris de gasolina por mês a mais para cumprir a determinação do governo. Esse volume virá do exterior, por um preço mais alto que o praticado pela estatal no país. No segundo trimestre, o aumento das importações e a defasagem entre os preços de compra e de venda da gasolina provocou um prejuízo de R$ 2,28 bilhões à área de abastecimento da Petrobras. No mesmo período de 2010, o resultado foi negativo em somente R$ 108 milhões.
"Se a importação continuar mais forte, o câmbio não mudar e a defasagem entre os preços permanecer igual, haverá impacto negativo dessas importações no resultado da área de abastecimento", diz Lucas Blendler, analista da Geração Futuro.
Com cálculos baseados no preço médio de importações de gasolina neste ano e no volume de importações necessárias, o CBIE estima que a Petrobras terá uma perda adicional de R$ 27 milhões por mês com a nova regra.
O preço da gasolina nas refinarias da Petrobras, inalterado desde junho de 2009, anteontem era 9% menor do que o preço da gasolina no golfo do México, nos EUA, referência do mercado, segundo a Tendências Consultoria.
Procurada, a Petrobras afirmou que avalia a necessidade de novas importações.
PRESSÃO
O aumento das importações, em teoria, aumentaria a pressão para a Petrobras reajustar a gasolina no país.
Mas analistas descartam essa possibilidade no curto prazo, pois a decisão do governo de reduzir o percentual de álcool na gasolina teve exatamente o objetivo de conter a alta de preço do etanol.
"O governo vai sangrar ainda mais o caixa da Petrobras para preservar o transporte individual e combater a inflação", afirma Adriano Pires, diretor do CBIE.
A ingerência política é um dos fatores que prejudicam o desempenho das ações da Petrobras na BM&FBovespa, com queda de 23% neste ano.
Para o álcool, também não há expectativa de queda de preço. A Unica (União da Indústria da Cana) disse em nota que a medida "não melhora oferta de hidratado nem soluciona reais problemas".
Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, diz que os preços do álcool vão continuar em ascensão, porém mais moderada, por conta da queda na produção.
A FG/Agro estima, com base no mercado futuro, que o preço do hidratado na bomba não deve ser menor que R$ 2,05 em março de 2012.