A abundância de terra agricultável, o clima favorável e a vasta experiência do produtor já não são mais ingredientes suficientes para garantir a enorme competitividade que fez do Brasil o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. Nos últimos três anos, a combinação entre alta dos custos internos, câmbio e a euforia dos investidores com o etanol acabaram tirando o País da liderança do ranking de menor custo de produção da cana.
Na frente do Brasil, já estão Austrália, África do Sul e Tailândia. Há quem diga que Colômbia e Guatemala também têm conseguido produzir açúcar a um custo menor, mas eles não constam nas estatísticas oficiais. Embora sejam países com pequena produção comparada ao Brasil, o resultado reflete o momento mais delicado da indústria nacional de cana-de-açúcar. A escalada dos preços do etanol, por exemplo, levou o governo a anunciar na semana passada a redução da mistura do combustível na gasolina – uma forma de ampliar a oferta de álcool hidratado na bomba.
No açúcar, embora os preços estejam elevados no mercado internacional, não há grandes problemas. Mas o aumento do custo do Brasil, que responde por quase 50% do mercado mundial, tem reanimado até mesmo a indústria de açúcar de beterraba na Europa, afirma o presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-sul do Brasil (Orplana), Ismael Perina. "Há sete anos, esse produto estava inviável. Agora voltou a ficar viável, o que é ruim para o País."
Segundo dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), de 2005 para cá, os custos de produção cresceram cerca de 40% – de R$ 42 por tonelada de cana para R$ 60. Uma série de fatores explicam esse avanço. Alguns deles provocados pela extensa lista do chamado custo Brasil, como a valorização do real e a carga tributária elevada, que reduz a competitividade das empresas nacionais. Outros foram criados pela própria expansão do setor, como a falta da mão de obra.
O problema surgiu com o início da mecanização da colheita de cana, que deverá atingir 100% em 2014. Embora seja mais barato, o processo pegou o setor despreparado. Não havia frota suficiente para fazer a colheita e a mão de obra, antes acostumada a usar facões para cortar a cana, não sabia manusear tratores e colheitadeiras equipadas com alta tecnologia. Resultado disso foi o aumento no preço das máquinas e dos salários do setor.
"Além disso, o canavial não estava preparado para a colheita mecanizada, que exige um espaçamento diferente no plantio. Isso reduziu de forma significativa a produtividade", afirma o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues. Até hoje, diz ele, não se encontrou uma solução econômica para a palha que é retirada durante a colheita. "Se for junto com a cana para a usina, isso aumenta o custo de transporte. Se ficar no canavial, pode trazer pragas."