O álcool rompeu a barreira dos R$ 2 por litro em São Paulo e chegou a ser negociado a R$ 2,10 em alguns postos da capital paulista nesta semana, conforme pesquisa da Folha.
Com isso, o álcool perde ainda mais competitividade em relação à gasolina, levando os consumidores mais atentos aos custos a optar pelo derivado do petróleo. O valor médio do álcool nos postos da capital paulista foi de R$ 1,849 por litro, com alta de 2,4%.
Enquanto os preços mantêm o mesmo ritmo de alta das últimas semanas nas bombas, perdem força nas usinas. A pesquisa de ontem do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP indicou R$ 1,1892 por litro de álcool hidratado, com alta de 1,87% sobre a semana anterior.
Ao romper a barreira de R$ 2 por litro neste início de entressafra, o álcool mostra a grande disparidade de preços que registrou durante a safra.
Nos momentos de maior oferta pelas usinas, o produto chegou a ser negociado a R$ 1,09 nas bombas, segundo Plinio Nastari, presidente da Datagro, prestadora de serviços aos setores de açúcar e de biocombustíveis.
Crise e clima foram os responsáveis por tamanha disparidade. Sem crédito, e pressionadas pelas contas que venciam, as usinas foram obrigadas a colocar excesso de álcool no mercado para fazer caixa.
Com isso, o álcool hidratado chegou a ser negociado a R$ 0,581 na porta das empresas em junho do ano passado, 51% menos do que o registrado pelo Cepea nesta semana.
Diferentemente do que ocorreu em 2009, as variações de preços do álcool hidratado serão menores na safra que começa nos próximos meses, e o consumidor terá no preço do combustível um piso maior.
Sem as fortes pressões de caixa de 2009, porque haverá aumento das margens obtidas na comercialização, principalmente com vendas de açúcar, as usinas farão vendas mais controladas do produto.
Na avaliação de Nastari, esse aumento de margens permitirá às indústrias não colocar o combustível no mercado com preços inferiores aos custos de produção, como em parte do ano passado. Atualmente, os custos de produção estão em R$ 0,72 por litro.
Em vez do R$ 1,09 que o consumidor pagou pelo álcool na bomba em junho de 2009, deverá pagar cerca de R$ 1,40 no mesmo mês deste ano.
"Será uma situação mais saudável", diz Nastari. O consumidor não fica iludido que R$ 1,09 na bomba seja um preço sustentável e, por outro lado, ficará menos chocado com as variações menores de preço.
O presidente da Datagro alerta que a situação de abastecimento nesta entressafra é mais confortável do que a de 2009. O setor chegará ao início de maio com estoques efetivos de 1,35 bilhão de litros, suficientes para 18 dias de consumo -no ano passado, os estoques eram de apenas dez dias.
Nastari alerta, ainda, que o mercado de álcool e de açúcar passou a ser livre e que uma das poucas interferências que restam ao governo é a redução da mistura do álcool à gasolina.
Sobre essa última redução, de 25% para 20%, o presidente da Datagro discorda das análises que apontam para alta nos preços da gasolina. O litro do anidro custa R$ 1,26 nas usinas, e o da gasolina, R$ 1,06 na refinaria. Esses valores não contêm impostos.