A quebra da safra de cana-de-açúcar e a estiagem deste ano levaram usinas a antecipar o fim da colheita, o que normalmente acontece apenas em dezembro.
Ontem, o último caminhão carregado com a produção de cana da usina São Francisco, em Sertãozinho (333 km de SP), entrou na unidade levando 100,9 toneladas da matéria-prima para a fabricação de açúcar e etanol.
O fim da colheita aconteceu 46 dias antes do previsto, já que a usina encerra a safra em novembro.
Além do fim antecipado, a São Francisco amarga a menor moagem desde 1995: 975 mil toneladas, frente a 1,32 milhão de 2010.
Ao menos duas outras usinas afirmam que terminarão a safra de 20 a 30 dias antes do usual, com quebra de produção de 5% a 15% na região de Ribeirão (313 km de SP).
O setor enfrentou problemas climáticos e a falta de investimento na renovação dos canaviais, levando à quebra de produção, já que cana mais velha produz menos.
A expectativa da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) de colher 568,5 milhões de toneladas neste ano não se confirmou e a entidade já revisou para baixo a previsão de safra, que deve ser de 510,24 milhões de toneladas -quebra de 10,25%.
Para Maurilio Biagi Filho, conselheiro da Unica, a maior parte das usinas deve encerrar a colheita em meados de outubro. Isso leva a uma entressafra de cinco meses -a consequência será o aumento de preços de combustíveis.
Para Biagi Filho, as usinas têm reduzido a velocidade de moagem para prolongar a produção, ou seja, não operam com toda a capacidade.
"As usinas reduziram a moagem da cana de 15% a 20%", afirmou.
A estiagem prolongada na maior região produtora do país deve favorecer a antecipação da colheita, já que, sem chuva, não há empecilho para o avanço das máquinas.
Foi o caso de uma usina ouvida pela Folha, que não quis se identificar por questões estratégicas de mercado.
Segundo o porta-voz da usina, houve investimento em renovação do canavial, mas o clima contribuiu para que o rendimento caísse.
Se no ano passado foram moídas 6,1 milhões de toneladas de cana na unidade, neste ano ela vai encerrar a safra com 5,1 milhões.
O baixo rendimento fez com que as usinas deixassem de produzir 31,13% de álcool combustível, se comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo a Unica.
Isso significa que 4,28 bilhões de litros deixaram de abastecer os postos, 10,18% a menos do que em 2010.
As usinas priorizam a produção de álcool anidro que, misturado à gasolina, abastece veículos, flex ou não.