Depois de se tornarem auto-suficientes em energia elétrica, contribuírem para a redução das emissões de gases que provocam o aquecimento global e evitar parte dos poluentes provenientes do uso de derivados de petróleo, as usinas de álcool e açúcar caminham definitivamente para a sustentabilidade. Tecnologia desenvolvida pela indústria Dedini apresentada nesta terça-feira (01) durante o Simpósio e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira, em Piracicaba, São Paulo, promete transformar usinas não apenas auto-suficientes, mas também produtoras de água com excedente suficiente para abastecimento de terceiros, indústria ou lavoura.
Já temos condições de fornecer usinas auto-suficientes em água, ou seja, que não demandam abastecimento externo. Em um segundo passo, com a adoção de medidas adicionais que minimizam o consumo de água, melhora a recuperação de energia e a adoção do sistema de concentração da vinhaça por evaporação, conseguimos recuperar a água da cana e transformar a usina canavieira de consumidora em exportadora de água. Dessa forma, a água poderá ser mais um produto obtido da cana-de-açúcar, afirmou o vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da Dedini, José Luiz Oliverio. Isso é possível já que a cana-de-açúcar possui 70% de água em sua composição, explica.
A redução do consumo de água nas usinas é uma preocupação antiga da empresa, por se tratar de um recurso natural importante com oferta limitada, informa a assessoria da Dedini. Segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira, há 20 anos, as usinas captavam 5,6 mil litros de água por tonelada e hoje utilizam 1,8 mil litros (redução de 68%). No processo de fabricação do açúcar e do etanol (lavagem da cana, condensadores/multijatos, resfriamento, fermentação, etc.) eram utilizados 20 mil litros de água e hoje são 10 mil litros por tonelada de cana.
Segundo Oliverio, o grande salto do setor é a evolução da tecnologia, fazendo com que a usina produza mais água do que vai utilizar e assim tenha condições de abastecer terceiros com o excedente. Com uma concentração maior da vinhaça (cerca de 65%) conseguimos produzir, também através do processo de evaporação e condensação deste vapor, água doce que pode ter uso doméstico e industrial (não potável) ou para irrigação, diz Oliverio.
O processo gera cerca de 300 litros de água por tonelada de cana, o que significa, numa usina de capacidade para processar 12 mil toneladas de cana dia, um excedente de 3,6 milhões de litros de água diários. A Dedini vai oferecer a tecnologia ao mercado já no próximo ano.
A tecnologia da usina produtora de água também é responsável pela criação do, biofertilizante organomineral criado pela Dedini, batizado de biofom com a mistura da cinza da caldeira, torta de filtros e vinhaça concentrada, subprodutos do processo de fabricação do açúcar e do etanol.
A utilização do biofom, em substituição à vinhaça concentrada ou in natura, aumenta a rentabilidade da usina, pois melhora a produtividade agrícola e ainda reduz os gastos e investimentos com transporte, diminuindo o consumo de combustível de petróleo em cerca de 20%. O biofom tem 90% de carga fertilizante enquanto a vinhaça tem apenas 10%.
De acordo com a empresa, o biofom evita perda de nutrientes por lixiviação do solo, substitui em parte a utilização de fertilizantes minerais, elimina o mau cheiro da vinhaça e poder ser utilizado em vários tipos de cultura, além da cana. Por ser um fertilizante de alta concentração, reduz investimentos e custos na comparação com a vinhaça líquida.
Fonte: Agência Estado, em 02/07/2008