A colheita mecânica já acontece em 70% das áreas de cultivo no estado de São Paulo. Agora, pesquisadores da Unesp de Jaboticabal conseguiram demonstrar os benefícios desta palha residual para o solo e para a atmosfera. A coleta de dados aconteceu em áreas plantadas no nordeste do estado. Eles observaram as variações no solo de acordo com a forma de manejo da terra. Com duas hastes, mediram temperatura e nível de umidade. E com uma câmera especial, puderam registrar a entrada e saída dos gases como explica o pesquisador Eduardo Figueiredo. "Através desse aparelho a gente faz as medidas das emissões de co2 durante a respiração do solo e transfere isso pro computador onde os dados vão ser analisados".
Os microorganismos do solo usam a água e o oxigênio para transformar os resíduos em energia – e liberam o gás carbônico como sobra do processo. Tanto na lavoura colhida manualmente, quanto onde a colheita é mecânica, a decomposição natural da matéria orgânica emite a mesma quantidade de gás carbônico. A diferença está no co2 que é liberado como consequência da forma de manejo da terra. Com a colheita anual, a principal causa da emissão de poluentes é a queimada.
Por ano são 3.100 quilos de gás carbônico a cada hectare cultivado. Já na colheita mecânica, as máquinas movidas a diesel é que contribuem com o lançamento do gás. Neste caso o número cai para 2.800 quilos por hectare, ao ano. "A presença da camada de palha por si só, na superfície do solo, já dificulta as trocas de gasosas" aponta o pesquisador Newton La Scala Junior. Ele ainda diz que isso acontece pelo gás ser bem denso e que a palha aumenta a umidade no interior do solo. Isso dificulta a entrada de oxigênio e a saída de co2 também.
Ao comparar os dados de um terreno coberto de palha e de outro, em que os resíduos foram retirados e o solo ficou exposto, o resultado foi um aumento de 20% na emissão do gás carbônico na área descoberta. Essa quantidade a mais de gás carbônico emitida do terreno de onde a palha foi retirada tornaria a colheita mecânica menos vantajosa até do que o método de queimada. A pesquisa mostrou que – ao longo do ciclo de plantio, colheita e decomposição da matéria – a área queimada emite menos co2 do que o espaço onde a cana foi retirada crua e depois a palha foi removida resultando em uma redução nos estoques de carbono do solo.
A palha mantida sobre o solo também contribui com a nutrição da terra. O carbono que deixa de subir para a atmosfera é absorvido como um fertilizante natural – o que significa economia para o produtor, como afirma Newton, "ao longo do tempo, a palha acaba compensando um pouco a necessidade de utilização dos fertilizantes sintéticos".