Uma mobilização pelo Brasil

Na semana que passou, um evento marcou o lançamento do que pode ser um marco histórico, o "Movimento por um Brasil com Juros Baixos: mais empregos e maior produção" (www.brasilcomjurosbaixos.com.br). A peculiaridade alvissareira, que lhe dá um caráter de ineditismo, é o fato de reunir entidades de empresários e trabalhadores, com apoio expressivo de economistas e outros intelectuais identificados com a causa. A iniciativa é da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entidades setoriais, como a Associação Nacional da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), e centrais sindicais, como a CUT, a Força Sindical e seus sindicatos afiliados.

A questão central envolvida é a preocupação em mobilizar a opinião pública em relação às grandes questões que afetam o desenvolvimento do Brasil. O longo ciclo de juros excessivamente altos e câmbio valorizado tem representado enorme ônus para a produção brasileira e o emprego a ela relacionado, com consequências preocupantes para o futuro do País. Os dados da produção física da indústria medidos pelo IBGE mostram que o nível atual é equivalente ao de setembro de 2008, antes dos efeitos da crise da quebra do Lehman Brothers. Neste período, como a demanda continuou a crescer, as importações ganharam espaço, substituindo a produção doméstica. Desde então, todo o crescimento industrial observado só permitiu, três anos depois, o retorno ao mesmo nível atingido então.

A exportação de manufaturados também perdeu participação na nossa pauta e no mercado internacional. Vale lembrar que outros países diminuíram substancialmente as taxas de juros e desvalorizaram suas moedas, o que vem prejudicando a competitividade dos produtos produzidos aqui. O resultado é que deveremos acumular um déficit de US$ 50 bilhões na balança comercial da indústria de transformação até setembro deste ano. Estamos, pois, gerando emprego e renda em outros países, enquanto perdemos competitividade num setor fundamental para o nosso desenvolvimento. Há segmentos importantes na nossa cadeia produtiva que estão sendo inviabilizados, e isso nada tem que ver com a capacidade individual dos produtores.

Não se trata de um falso dilema entre industrialização e produção agromineral. O Brasil tem o raro privilégio, por suas características, de continuar a ser fortemente competitivo em áreas mais tradicionais, como agricultura, mineração e pecuária, sem, no entanto, inviabilizar a industrialização, que foi, aliás, o grande fator impulsionador para chegarmos à 7.ª maior economia mundial.

Como as políticas econômicas não são neutras, há beneficiados ao longo do processo. Tornamo-nos alvo preferencial de operações de arbitragem, em razão do diferencial dos juros locais, relativamente aos praticados internacionalmente. Temos atraído investimentos na produção, mas também muito capital que só vem em busca de lucros fáceis e baixo risco. O mais contraditório é que não precisamos disso, dadas as condições macroeconômicas muito melhores hoje do que no passado.

Assim, para além do conflito capital-trabalho, o desafio é fortalecer a produção brasileira – até porque, no limite, não teremos mais produtores e trabalhadores. Da mesma forma, mais que uma demanda corporativa setorial, trata-se de uma questão que deve mobilizar a sociedade, pois não é um problema restrito aos envolvidos diretamente.

Primeiro, porque a conta a ser paga, sob os pontos de vista econômico, político e social, representa um ônus para todos, sob a forma de maior dependência de recursos externos, diminuição da autonomia das políticas econômicas domésticas e perda de empregos qualificados, renda e receita tributária, em última instância, do desenvolvimento. Segundo, porque, se queremos a preservação de um Brasil autônomo, livre e democrático, não podemos nos dar ao luxo de perder o nosso grande diferencial e abrir mão da indústria!

Deixe um comentário