Mesmo com a redução do percentual de mistura do etanol anidro na gasolina – de 25% para 20% – e com uma produção do biocombustível maior do que na safra passada, os preços do anidro continuam firmes e elevados no mercado interno.
Levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) mostra que entre abril e outubro deste ano – período de safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul – o preço médio do anidro nas usinas em São Paulo ficou 44% mais alto do que em igual intervalo do ano passado (já descontada a inflação).
Na primeira semana deste mês de novembro, o indicador Cepea/Esalq para o anidro permaneceu firme, praticamente estável em R$ 1,3788 o litro.
Segundo as mais recentes estimativas da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), a produção de anidro nesta temporada deve ser de 7,83 bilhões de litros no Centro-Sul, 5,6% maior do que na safra passada. Além disso, a redução da mistura do anidro na gasolina em cinco pontos percentuais resultará em um consumo 1 bilhão de litros menor do biocombustível – considerando o período de 1º de outubro deste ano, quando entrou em vigor a redução do percentual, até abril do ano que vem.
"Se o percentual de mistura não tivesse sido reduzido, é provável que os preços estivessem ainda mais elevados", diz Miriam Bacchi, pesquisadora do Cepea.
Ela afirma, ainda, que as importações do biocombustível – que devem chegar a 1,12 bilhão de litros até abril do ano que vem no Centro-Sul, segundo a consultoria Datagro – não devem trazer grandes desequilíbrios na relação entre oferta e demanda. "O mercado já incorporou esse movimento nos preços", acredita Miriam, que também é professora da Esalq.
Em um outro sinal de escassez de produto, os preços médios do etanol hidratado, que abastece diretamente os tanques dos veículos, estão 32,7% mais altos entre abril e outubro deste ano na comparação com o ano anterior, segundo o indicador Cepea/Esalq.
De acordo com dados divulgados ontem pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) referentes à semana passada, só é vantajoso abastecer com etanol no Estado de Goiás, onde o preço do litro nos postos de combustíveis equivale a 68% dos da gasolina.
Em São Paulo, Tocantins e Mato Grosso é indiferente ao consumidor abastecer com etanol ou gasolina, pois os preços do biocombustível equivalem a 70% do valor do combustível fóssil, percentual considerado de equilíbrio entre as competitividades de ambos.
Apesar de toda a alta de preços do etanol, o açúcar segue oferecendo maior rentabilidade às usinas que o biocombustível. Segundo o Cepea, o açúcar cristal rendeu remuneração 37% maior que a do anidro e 43% superior a do hidratado na semana passada.