O grupo Odebrecht prevê produzir açúcar em Cuba, informou ontem a empresa. Esse será o primeiro investimento de capital estrangeiro no setor no país. A Companhia de Obras em Infraestrutura (COI), subsidiária da Odebrecht em Cuba, deverá assinar com o estatal Grupo de Administração Empresarial do Açúcar (Azcuba) um contrato de administração produtiva da usina 5 de Septiembre, na província de Cienfuegos.
"O acordo, com período de dez anos, tem como objetivo incrementar a produção de açúcar e capacidade de moagem e ajuda na revitalização do setor", afirmou a Odebrecht, por meio da assessoria de imprensa. O projeto abriria ao capital estrangeiro um setor sem recursos no país, cuja produção caiu fortemente, de 8 milhões de toneladas, na década de 1970, para apenas 1,2 milhão de toneladas na safra passada. A atual safra do Centro-Sul do Brasil, que está na etapa final, registra moagem de 492 milhões de toneladas de cana.
A entrada da Odebrecht na modernização da decadente indústria açucareira cubana ampliaria o papel da empresa na modernização da infraestrutura da ilha. O conglomerado, por meio do seu braço para o setor de bioenergia, é um dos principais produtores de etanol do Brasil, com capacidade de processamento de 40 milhões de toneladas de cana em 2012.
A Odebrecht não forneceu mais detalhes sobre o projeto. Um executivo brasileiro do setor, contudo, disse que o contrato poderia ser assinado durante a visita da presidente Dilma Rousseff à ilha. Cuba permitiu há mais de uma década a entrada do capital estrangeiro para o desenvolvimento de indústrias estratégicas como o turismo e, recentemente, a do petróleo.
Empresas privadas de outros países levaram anos negociando a entrada no setor de açúcar de Cuba, nacionalizado pouco depois da revolução liderada por Fidel Castro, em 1959. A abertura ocorre depois de profunda reestruturação na indústria, como parte dos esforços do presidente Raúl Castro de modernizar a economia do país.
Segundo um executivo da indústria brasileira de açúcar com conhecimento do projeto, a Odebrecht também produzirá etanol e energia a partir de biomassa em Cuba. "Cuba está se abrindo à possibilidade de produzir etanol acompanhado de geração de energia, e a Odebrecht vai montar uma destilaria", disse.
"É um projeto similar ao que a Odebrecht está desenvolvendo em Angola", acrescentou a fonte, em alusão à joint venture de US$ 258 milhões com a petroleira angolana Sonagol para produzir 260 mil toneladas de açúcar, 30 milhões de litros de etanol e 45 megawatts de energia elétrica.
A produção de etanol em grande escala em Cuba, no entanto, vai contra o que já disse o ex-presidente Fidel Castro, um feroz crítico da agroenergia, por sua concorrência com a produção de alimentos. Alguns especialistas acreditam que Cuba poderá ter ressuscitada a indústria de açúcar e poderia se converter no terceiro maior produtor do biocombustível do mundo, atrás de Estados Unidos e Brasil.