Depois de um ano e meio de intensas negociações, a América Latina Logística (ALL) – empresa que comprou a antiga Brasil Ferrovias e detém a maior malha do País – conseguiu convencer produtores de álcool combustível a trocar o caminhão pelos trilhos. A partir do quarto trimestre deste ano, parte do etanol produzido em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo será transportado, pela primeira vez, por ferrovia, depois de décadas de domínio do modal rodoviário no setor.
O responsável pela unidade de líquidos da ALL, Eduardo Fares, explica que o negócio envolve nomes de peso do setor sucroalcooleiro, como Coopersucar, Cosan, CrystaSev, Usinas Guarani, Grupo Moema, Grupo Cerradinho, Usinas Coruripe e Usina São Martinho, além das distribuidoras de combustível. A expectativa é que já no ano que vem cerca de 1 milhão de metros cúbicos (m³) de álcool com destino ao mercado consumidor de São Paulo e região seja movimentado pelos trilhos da ALL, chegando a 2 milhões de m³ em 2010.
Fares explica que um dos principais desafios foi convencer os produtores a mudar a matriz de transporte e investir em infra-estrutura. Ao contrário do caminhão, o transporte por ferrovia exige estrutura de carga e descarga. Nesse projeto, será necessário construir 11 centros coletores nas regiões paulistas de Fernandópolis, São José do Rio Preto, Uchoa, Araraquara, Pradópolis, Passagem, Bauru, Araçatuba e Andradina, além de Alto Taquari, em Mato Grosso, e Chapadão do Sul, em Mato Grosso do Sul.
O projeto também exige construção de infra-estrutura para descarga e ramal ferroviário na Refinaria Planalto Paulista (Replan), em Paulínia, no interior de São Paulo. Ao todo, produtores, distribuidores e ALL investirão R$ 104 milhões para tornar viável o transporte de etanol por ferrovia. Desse volume, R$ 70 milhões já saíram dos cofres da empresa para a compra de 250 vagões-tanque.
Segundo Fares, a parceria com produtores e distribuidores vai permitir ainda melhorar a produtividade da empresa. Isso porque hoje a ALL transporta 170 mil m³ por mês de diesel e gasolina da Replan para o interior de SP, MS e MT. Os vagões, que antes só tinham carga na ida, agora também voltarão cheios. O executivo destaca que, nessa operação, o transporte ferroviário chega a ser 40% mais barato que o rodoviário.
Os contratos, cujo prazo médio é de 20 anos, inclui tanto o transporte de álcool anidro, para misturar na gasolina, como o de álcool hidratado (usado nos carros). No caso do anidro, a entrega será nas distribuidoras. O álcool combustível irá até os centros de descarga e depois, de caminhão, para os postos.
O negócio faz parte da estratégia da ALL de expandir o modal ferroviário no Centro-Sul do País. Desde que comprou a Brasil Ferrovias, em maio de 2006, a ALL já conquistou inúmeros espaços dominados pelos caminhões. Entre as cargas que foram incluídas no seu portfólio estão milho, cimento, escória, calcário, toras de madeira e bobinas de aço. A partir do ano que vem a empresa também vai carregar celulose da VCP. Há ainda estudos para o transporte de cargas frigorificadas nessa área de concessão.
Fonte: O Estado de S. Paulo, em 10/08/2008