Etanol não pode ser tratado como produto agrícola´, diz Pedro Parente

Ajustar o diálogo entre governo e setor sucroalcooleiro para o retorno dos investimentos na produção de etanol é o grande desafio do novo presidente do Conselho Deliberativo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Pedro Parente.

Para que o diálogo com o governo seja fortalecido, Parente acredita que é fundamental que a indústria incorpore o fato de que o etanol seja tratado como combustível e não mais como produto agrícola. "Esse entendimento tem relevância estratégica para o futuro do setor", disse o executivo em entrevista exclusiva à Agência Estado.

Parente assume o novo cargo em um momento em que o setor sucroalcooleiro e o governo vivem um impasse. De um lado, o setor enfrenta duas safras com problemas climáticos que reduziu a oferta de cana-de-açúcar em mais de 100 milhões de toneladas, além de trabalhar com margens mínimas ou negativas na produção de etanol em função dos preços da gasolina estarem fixos há cerca de cinco anos.

Como o teto do preço do etanol é de 70% do preço da gasolina na bomba, o preço fixo da gasolina faz com que o produto perca competitividade, já que os preços do etanol têm absorvido a alta dos custos de produção, o que não acontece na gasolina.

Do outro, o governo fixa metas ousadas para a expansão da produção de etanol sem, contudo, criar um programa de incentivos ou acenar com um cenário mais positivo no médio e longo prazo, que torne viável os investimentos sustentáveis em novas usinas de etanol. Ao priorizar a produção de açúcar na safra passada em função dos maiores preços internacionais, o setor teria manchado sua imagem junto ao governo.

Ex-chefe da Casa Civil, Parente quer utilizar sua experiência de mais de 30 anos dentro governo para que as relações do setor sucroalcooleiro com Brasília voltem a se estreitar.

"Minha experiência me dá condições para compreender como o governo pensa e, dessa forma, ajustar a comunicação entre o setor e os mais diferentes níveis de administração federal", explica.

Parente assumiu o novo cargo há cerca de 15 dias e tem como objetivo manter equilibradas as negociações entre as demandas do setor e do governo.

Ele afirma que o governo também está dando sinais de melhor compreensão dos mecanismos que constroem o setor, que envolve adversidades climáticas e também estímulos econômicos vindos do açúcar. "Estamos restabelecendo o nível de confiança do setor junto ao governo", disse ele.

Interlocução

Um sinal de que o governo está voltando a ter confiança nas empresas sucroalcooleiras, segundo Parente, vem do fato da presidente da República Dilma Rousseff ter indicado a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Helena Hoffmann como interlocutora das questões envolvendo setor e governo.

"Agora, temos uma pessoa que vai concentrar as demandas que estavam espalhadas por vários ministérios, o que levava a uma perda de foco". O executivo – que também é presidente da Bunge Brasil – busca atingir um equilíbrio no diálogo com o governo.

A expectativa é de que o setor seja capaz de mostrar comprometimento para atender a demanda de etanol no mercado interno ao mesmo tempo que o governo precisa entender que o setor enfrente margens baixas e até negativas na produção de etanol. "O setor não está enxergando retorno sustentável para investimentos em etanol para o médio e longo prazo", disse.

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