Da usina de cana-de-açúcar até o tanque do carro, o preço do álcoolhidratado dá um salto de 101%. O litro, que sai das caldeiras a R$ 1,03, segundo preço médio calculado pela Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq/USP), chega às bombas de Belo Horizonte a R$ 2,07, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No meio do caminho, além dos custos com frete, mão de obra e lucro para distribuidoras e postos, ele incorpora impostos que somam R$ 0,54 por litro, ou seja, 26% do preço final.
Com valor alto, o consumidor dá preferência à gasolina. O funcionário público Plínio Fraga, 33, por exemplo, tem carro flex, mas não coloca álcool desde 2010. "Eu até sabia que os impostos eram altos, mas não imaginava que a diferença era tanta da usina para a bomba. Se fosse mais barato, lógico que eu daria preferência", diz.
Com o abandono dos consumidores e sem políticas fortes para o setor, o etanolhidratado vai chegando aos 40 anos de vida com volume 41,6% menor do que o de 2009, quando o consumo do combustível atingiu seu ápice. De janeiro a julho deste ano, foram comercializados 5,398 bilhões de litros, contra 9,255 bilhões litros vendidos no mesmo período de três anos atrás.
Apesar da alta carga tributária, o maior responsável pela crise da meia-idade do combustível (criado em 1973 com o Pró-Álcool) não são os impostos, mas seu concorrente direto: a gasolina. Ou melhor, o tratamento diferenciado que ela vem recebendo do governo para manter seu preço estável.
Na prática, isso tem deixado o etanol cada vez menos vantajoso e menos consumido. Uma política reconhecidamente nociva ao setor do álcool.
Para ser competitivo, etanol tem que custar nas bombas até 70% do preço da gasolina. Hoje, essa relação é de 76% em média na capital mineira, segundo a ANP. Em junho, o governo zerou a
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que tinha um impacto de R$ 0,09 por litro.
O presidente interino da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário
Campos, diz que qualquer redução de impostos ajuda, mas a solução para a crise vai além dos créditos tributários. "Uma adequação do preço da gasolina ao mercado internacional equalizaria boa parte dos nossos problemas", diz.
"Aumentar o preço da gasolina é algo que o governo não vai fazer. Então, para trazer de volta a competitividade do etanol, tem que tratá-lo com igualdade, não adianta desonerar só a gasolina. Se não for por desoneração, o complemento do preço do etanol tem que vir de outra forma, com política de juros, financiamento, enfim, o governo tem que alinhar as alternativas", receita o presidente interino da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua. Diante da queda no consumo e da falta de incentivos fiscais, 41 usinas já fecharam as portas no país desde 2008.
Nos planos da Petrobras, o etanol também está perdendo prioridade. O plano de investimento de 2012/2016 para aumentar a produção é de US$ 1,84 bilhão. O montante é 3,1% menor do que os US$ 1,9 bilhão anunciados no plano de 2011/2015. Com isso, a participação na matriz energética será reduzida de 2% para 1,6%.
Queila Ariadne
Fonte: Jornal O Tempo