Afinal, o que o governo quer do etanol?

Que o Brasil tem as melhores condições competitivas do mundo para a produção de bioenergia, isso ninguém discute. Dispomos de nada menos do que 50 milhões de hectares, com alto e médio potencial, aptos para a expansão da cana-de-açúcar (sem afetar áreas de proteção ambiental) além de uma farta oferta de água e de tecnologias de processamento.

A questão mais urgente e que vem tirando o sono dos empresários do setor é outra: afinal, o que o governo quer do etanol? Falta de políticas públicas claras de médio e longo prazo tem gerado insegurança e afastado investimentos mais robustos em biocombustíveis, criticaram executivos reunidos no Global Agribusiness Forum, em São Paulo, nesta quarta-feira,

Com a sinalização correta do governo federal, e investimentos, a participação do etanol na matriz energética brasileira pode crescer de 15,7% para 22,5% e ainda gerar mais 630 mil empregos diretos e indiretos. "Temos adormecido no campo uma energia em biomassa equivalente à consumida na Holanda. Mas para aproveitá-la precisamos de um marco regulatório, com regras que garantam condições estáveis para o ambiente de negócios", defende Luiz Roberto Pogetti, presidente do Conselho da Copersucar.

"Do jeito que está, não dá. Ora temos 20% de mistura na gasolina, ora temos 25%, ora ameaçam que vão aumentar o açúcar…Nenhum investidor vai botar dinheiro em um negócio instável assim", critica o executivo, que enxerga oportunidades positivas para o setor no aumento da frota flex brasileira.

Os automóveis flex são o mecanismo regulador fundamental no mercado de etanol brasileiro, que hoje supre praticamente metade da frota de carros de passeio. A equação não tem mistério: quanto maior o número de quatro-rodasflex nas ruas, maior o consumo do etanol e a satisfação do empresariado. Até 2020, a frota de passeio deve saltar dos atuais 29 milhões de veículos para 50 milhões, e cerca de 40% será de carros flex. Na prática, isso se traduzirá numa demanda de 52 bilhões de litros de etanol, 30 bilhões a mais do que se consome hoje.

O tamanho do desafio e da oportunidade

De acordo com a consultoria agrícola Datagro, na década de 80, o Brasil representava mais da metade da produção mundial de etanol, mas em 2012 sua participação caiu para 21%. Agora, com o mercado americano de etanol de milho chegando ao seu limite, abre-se uma nova janela de oportunidades para o Brasil voltar a crescer.

Sem políticas claras para o setor, o Brasil corre risco de ver a tal janela de oportunidades – fruto do crescimento demanda interna e mundial – preenchida por outros países, como Austrália e Tailândia, que veem investindo pesado no setor.

Biodiesel

Sina semelhante enfrenta a produção nacional de biodiesel. "Este ano, o Brasil deve importar 19% do diesel que precisa. É um mercado sedento", afirma Erasmo Carlos Batistella, da Associação de Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio).

Mais do que sedento, esse é um mercado mal aproveitado. No cenário nacional, o país dispõe de 6 milhões de m3 de capacidade instalada, mas uma ociosidade na ordem de 50%. A situação preocupa. "Anualmente, o Brasil exporta 30 milhões de toneladas de soja in natura. Deixamos de agregar valor à produção por não processar essa soja aqui e gerar biodiesel", ressalta Carlos, lembrando que o combustível renovável é mais vantajoso do ponto de vista ambiental, ao emitir 57% menos gases efeito estufa comparado ao diesel comum.

Hoje, o Brasil adiciona 5% de biodiesel ao diesel, sendo o maior consumidor isolado do biocombustível. Em produção, empatamos com a Alemanha, e perdemos para Estados Unidos e Argentina.

"Temos todas as condições de avançar nesse programa, mas estamos dependendo de uma posição forte do governo. Como empresários, precisamos de uma sinalização clara de para onde o biodiesel vai. Sem isso, podemos perder a oportunidade de mostrar ao mundo que o Brasil tem tudo para ser o país da agroenergia".

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