Os contratos futuros de etanolhidratado na BM&F Bovespa com vencimento em janeiro acumularam queda de 3,7% em setembro, apesar da entressafra de cana-de-açúcar à vista. Na sexta-feira, fecharam com novo recuo, de 0,25%, cotados a R$ 1.166 por m³. De acordo com o especialista da consultoria FG Agro, Thiago Campaz, o movimento se deve à percepção de que haverá uma grande oferta de etanol até abril de 2013. "Exportações acima de 2,5 bilhões de litros ou aumento do consumo interno poderiam mudar o cenário", afirma Campaz.
De acordo com números da FG Agro, em 31 de março do ano que vem o Centro-Sul terá em estoques 1,3 bilhão de litros de etanol. Em abril, primeiro mês da nova safra, a produção pode atingir 2 bilhões de litros e o consumo, 1,7 bilhão, resultando em um estoque de 1,6 bilhão de litros do biocombustível em 30 de abril. "Isso significa carregar estoques para o próximo ciclo. Por isso, os preços devem recuar para reajustar essa oferta", completa Luiz Gustavo Torrano Corrêa, também da FG Agro.
A estimativa da consultoria, com sede em Ribeirão Preto (SP), está em linha com o projetado pela SCA Trading, uma das maiores comercializadoras de etanol do país. A empresa estima que, em 1º de abril do ano que vem, o Centro-Sul terá em estoques 600 milhões de litros de álcoolanidro e 1 bilhão de litros de hidratado. Se em abril as usinas moerem um volume de cana dentro da média histórica para o mês – 30 milhões de toneladas – e 60% disso for direcionado para a fabricação de etanol, a produção mensal do biocombustível pode atingir entre 1,3 bilhão e 1,4 bilhão de litros, praticamente o consumo total do mês, segundo a trading.
Assim, o mercado ficaria bem ofertado até o fim de maio ou início de junho, quando se espera a volta da mistura de 25% de anidro na gasolina, ante os 20% atuais. A medida representaria uma demanda adicional de 2 bilhões de litros de anidro. Além disso, para 2013, a expectativa é de um mercado externo mais positivo, uma vez que o mandato americano para o etanol avançado, categoria na qual somente o etanol de cana do Brasil se enquadra, deve saltar de 1,9 bilhão para 6,6 bilhões de litros.
A queda dos preços do etanol para janeiro também é reflexo da maior oferta do produto, tanto por parte de usinas que precisam se capitalizar, quanto pelos grupos financeiramente sadios que precisam liberar espaço nos tanques.