As dificuldades operacionais da Petrobras atingiram em cheio a balança comercial brasileira, diferença entre as exportações e importações do país. Em julho, o deficit foi de US$ 1,9 bilhão, o pior resultado para o mês, considerando a série iniciada em 1993.
No ano, o saldo negativo é de US$ 5 bilhões, outro recorde histórico, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento.
A baixa produção da Petrobras, que vem realizando paradas técnicas em plataformas de exploração, fez com que as exportações de petróleo caíssem 51% em julho ante o mesmo mês de 2012.
Já as compras no exterior de petróleo e derivados dobraram no mesmo período diante da capacidade insuficiente de refino da estatal.
Com isso, a conta petróleo (diferença entre o que o país vende e compra de petróleo e derivados) ficou US$ 3,5 bilhões no vermelho em julho.
No ano, o deficit nessa rubrica já chega a US$ 15,4 bilhões. Apesar de ser historicamente deficitária, a conta petróleo nunca chegou nem perto de um saldo negativo tão expressivo. No ano passado inteiro, por exemplo, o deficit foi de US$ 5,3 bilhões.
"Não é um problema de mercado externo, é um problema relacionado à empresa. Não conseguimos produzir. O Brasil depende de importações de petróleo e ficar tão vulnerável no quesito venda é um problema", afirma Felipe Salto, economista da consultoria Tendências.
A queda no preço de commodities importantes, como minério de ferro –principal produto da pauta exportadora do país–, açúcar e etanol, complicou ainda mais o cenário. Em julho, a cotação desses produtos alcançou o menor patamar no ano.
O governo segue fiel à estimativa de saldo positivo na balança comercial em 2013. Mas já faz contas. "De fato a conta petróleo nos preocupa", afirmou Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior. A estimativa para os próximos meses, segundo ela, ainda não é suficiente para rever a expectativa inicial.
A aposta do governo é que a Petrobras conseguirá recuperar sua produção e a desvalorização do real poderá incentivar exportações.
Por outro lado, a decisão do governo de reduzir a alíquota de importação de cem produtos, anunciada ontem, pode elevar as compras.
"A cada mês, o superavit se torna mais difícil, porque não há tempo hábil para retomada e os preços estão caindo", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior, que projeta deficit de US$ 2 bilhões neste ano.