A crise financeira internacional deflagrada no final de 2008 não impediu que a maioria das principais categorias profissionais de Rio Preto e região tivessem ganhos reais nas negociações deste ano.
Os trabalhadores conseguiram aumentos acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com ganhos que variaram entre o mínimo de 0,26 e o máximo de 9,57 pontos percentuais. Mas teve gente que apenas repôs a inflação do período.
Das nove categorias profissionais pesquisadas pelo Diário, sete tiveram reajuste acima da inflação e duas conseguiram recuperar apenas as perdas da inflação medida no período de sua data-base. O destaque do período foi a categoria dos motoristas, que obteve o maior ganho real, de 9,57%. Por outro lado, as piores negociações ocorreram nos setores alcooleiro e de saúde, que não tiveram aumento real. Os metalúrgicos foram procurados, mas não se pronunciaram.
Os sindicalistas consideraram as negociações salariais razoáveis, mas positivas, especialmente por se tratar de um ano de crise, que afetou a economia global e foi um dos principais argumentos dos empregadores na hora de discutir os reajustes da remuneração dos trabalhadores.
Os representantes dos trabalhadores também destacam alguns avanços importantes, como a manutenção de benefícios já adquiridos como tíquete alimentação, cesta básica e participação nos lucros e resultados (PLR), além de novidades como no caso dos bancários, que conseguiram aumentar a licença-maternidade de 90 dias para 120 dias.
Para o economista Hipólito Martins Filho, a preocupação com a manutenção do emprego foi maior no primeiro semestre deste ano. Como a economia brasileira sentiu menos os efeitos da crise e como a produtividade das indústrias está em alta, as negociações estão positivas e devem permanecer assim. “Como existe a expectativa de crescimento da economia entre 4,5% e 5% em 2010, a tendência é de que os trabalhadores tenham ganhos reais”, afirmou.
Motoristas conseguiram o melhor reajuste
Os motoristas foram os trabalhadores que conseguiram o maior ganho acima da inflação na região de Rio Preto. O Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários engloba três segmentos, que totalizam 12 mil trabalhadores: motoristas do setor sucroalcooleiro, do setor urbano e do transporte de cargas.
“Tivemos uma vitória muito grande porque, em outras categorias, o reajuste foi pequeno. Avançamos bem e conseguimos manter alguns benefícios, como tíquete alimentação e participação nos lucros e resultados”, disse o presidente do sindicato dos motoristas, Daniel Caldeira.
Segundo Caldeira, o reajuste dos motoristas de veículos de transporte de carga ficou em 15%, para um INPC de 5,43%, ou seja, ganho real de 9,57 pontos percentuais. O piso passou de R$ 939 para R$ 1.080. Os motoristas de ônibus tiveram reajuste de 11,7%, o que representa 6,27 pontos percentuais de aumento real. O salário-base deste pessoal está em R$ 1.050.
Já os trabalhadores do setor sucroalcooleiro tiveram reajuste que variou entre 9% e 11%, também acima da inflação. Os pisos variam de R$ 800 a R$ 900 para esses trabalhadores. Além disso, a categoria recebe participação nos lucros e resultados (PLR) que varia entre R$ 650 e R$ 1.080, além de tíquete alimentação no valor de R$ 240. “Já estamos nos preparando para as negociações do ano que vem. Nossa luta é equiparar o salário do motorista rodoviário intermunicipal com o da Capital, que hoje é de R$ 1.256.”
Setor de alimentos ganha 2%
Os trabalhadores do setor de alimentos também conseguiram ganhos acima da inflação, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins de Rio Preto e Região, Eurídes Silva, a entidade representa 11 categorias. “Em média, houve ganho real de 2%, o que é considerado bom diante da situação econômica complicada. Não tivemos de abrir mão de nada e conseguimos manter os benefícios anteriores.”
Os 3.364 trabalhadores do setor de frios e derivados, cuja data-base é maio, tiveram reajuste de 7%, o que significou ganho real de 1,18 ponto percentual, já que o INPC do período foi 5,82%. O piso deste setor está em R$ 630. Já os 350 trabalhadores do segmento de doces e conservas tiveram ganho real de 1,26 ponto percentual. O reajuste obtido foi de 7,5%, para um INPC de 6,24%. Empresas que têm até 40 funcionários pagam piso de R$ 656,35. As que tiverem mais, pagam R$ 780,12.
Outros dois segmentos importantes do setor de alimentação são o plúrimo (biscoitos, empacotamento, moagem etc) e o de bebidas. O primeiro emprega 1.200 pessoas e teve reajuste de 6,5% na data-base de setembro. O aumento real foi de 2,07 pontos percentuais, já que o INPC foi de 4,43%. Já os 490 trabalhadores do setor de bebidas tiveram reajuste de 7%, o que significou ganho real de 0,76 ponto percentual. O INPC acumulado até fevereiro foi de 7%.
Embora tenha sido mínimo, os frentistas conseguiram um reajuste acima da inflação. O reajuste foi de 6,5%, para um INPC acumulado até fevereiro de 6,24%, o que significa um aumento de 0,26 ponto percentual de ganho real. Hoje, o salário-base de cerca de 5 mil trabalhadores está em R$ 628, mais 30% de periculosidade. Além disso, a categoria recebe tíquete alimentação no valor de R$ 7 por dia, mais cesta básica de 27 quilos. Ao todo, a ajuda para a alimentação fica em R$ 260.
“A crise não afetou o setor por conta do aumento da venda de carros, motivada pela isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Se o carro foi vendido, ele precisa ser abastecido”, afirmou Luiz Carlos Fernandes, presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo de Rio Preto e Região.
Metalúrgicos vão a cada empresa
As negociações entre os trabalhadores do setor meta-lúrgico e os empregadores ainda está sendo realizada. A previsão é que termine na próxima semana. Na região, são cerca de 8,5 mil trabalhadores. “Como não houve acordo com os patrões, fomos negociar com as empresas”, afirmou Marcos Donizete de Souza, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Rio Preto. Até agora, foram fechados acordos com 40 empresas da região. Faltam ainda cerca de mil empregadores. Na média, o reajuste ficou em 7%, um ganho real de 2,72 pontos percentuais, já que o INPC acumulado até outubro foi de 4,18%.
Além do reajuste, os trabalhadores conseguiram um abono que varia entre 21% e 30% do valor do salário. Hoje, o piso salarial para empresas com até R$ 100 é de R$ 812. “Os acordos na região têm sido bons. Ficou acima de São Paulo, que foi de 6,53%”, afirmou.
Houve também a manutenção de cerca de 90 cláusulas sociais, entre elas auxílio-doença e auxílio-maternidade.
PAC ajuda pessoal da construção civil
Os cerca de 8 mil trabalhadores da construção civil conseguiram, em maio, um reajuste de 8%, ou seja, um aumento real de 2,17 pontos percentuais acima da inflação do período, de 5,44%. Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário de Rio Preto e região, Nelson Ioca, a negociação para as duas categorias foi considerada razoável, em virtude do final do ano passado ter sido marcado por desemprego e obras paradas em virtude da crise financeira. “Mas esse ano começou a melhorar.”
O piso de servente está em R$ 774,00 e o de pedreiro em R$ 909,40 para uma jornada de trabalho de 44 horas semanais. Os 3,5 mil trabalhadores do setor mobiliário tiveram reajuste de 7%, o que representa um ganho real de 1,17 ponto percentual. O piso está em R$ 700. “Para o ano que vem, nossa expectativa é boa, em função das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do programa Minha Casa, Minha Vida”, afirmou.
Com 5 mil trabalhadores em 90 municípios, distribuídos mais fortemente em Rio Preto e Auriflama, o setor de confecções obteve reajuste de 8%, o que representa um aumento real de 2,5 pontos percentuais, já que o INPC acumulado foi de 5,44%. Com data-base em junho, o salário-base da categoria está fixado em R$ 650.
“A negociação ficou dentro do esperado. Foi rápida e tranquila. Nossa luta é pelo aumento do piso, que é relativamente baixo em relação a outras categorias”, afirmou Laerte Teixeira da Costa, presidente Sindicato dos Trabalhadores no Norte do Estado de São Paulo nas Indústrias do Vestuário (Sindinorte).
Segundo Costa, o piso ideal estaria na faixa de R$ 800. Entretanto, a dificuldade para chegar a esse valor é a forte concorrência no setor, inclusive com os produtos importados de países como China, que são extremamente baratos e afetam a competividade das indústrias.
Bancários obtêm duas melhorias
Os bancários contabilizam dois avanços nas negociações deste ano. Um deles é referente ao aumento da licença maternidade de 90 para 120 dias. Além disso, os trabalhadores vão receber uma espécie de 13º tíquete alimentação, que na média é de R$ 490.
Com data-base em setembro, os 2.700 bancários tiveram reajuste de 6%, o que representa um ganho real de 1,5 ponto percentual em relação ao INPC de 4,43% acumulado no período. Os trabalhadores, cujo piso está em R$ 1.250, também conseguiram a PLR.
Para o secretário geral do sindicato, Edson Aparecido Favaron, até que a negociação não foi ruim. “O importante é que a PLR fosse incorporada ao salário. Contando com a crise, até que foi bom, mas poderia ser melhor.”
Duas categorias tiveram só INPC
Duas categorias não alcançaram ganhos reais.
Neste ano, os cerca de 5 mil trabalhadores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fabricação do Álcool, Químicas e Farmacêuticas de Rio Preto conseguiram apenas repor as perdas da inflação (INPC), acumulada em 5,83% até abril. Para Almir Aparecido Fagundes, presidente do sindicato, dois problemas dificultaram as negociações na data-base deste ano, em maio. “Uma questão foi a crise internacional e, na época, o litro do álcool estava sendo vendido a R$ 0,56 na usina e a saca de açúcar a R$ 25. Hoje, esses valores estão o dobro”, afirmou.
Mesmo assim, a negociação foi considerada positiva porque a categoria conseguiu manter benefícios como o piso salarial (R$ 766,33), PLR, hora extra em 80% e adicional noturno de 40%. Segundo Fagundes, os empregadores queriam reduzir a hora extra, o adicional noturno, tirar a PLR e não dar aumento neste ano.
Saúde
Os trabalhadores de hospitais, casas de saúde, clínicas médicas e veterinárias e laboratórios de análises clínicas também não tiveram ganho real, apenas a reposição de 5,83% da inflação. Segundo Aristides Agrelli Filho, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde de Rio Preto e região, são cerca de 10 mil trabalhadores em 50 municípios.
“A maior conquista foi a inclusão da cesta básica, de valor médio de R$ 50, por algumas entidades, além da manutenção do valor de 100% da hora extra.” Apesar de não ter conseguido aumento real – a categoria pedia 15% -, os trabalhadores do setor conseguiram manter alguns benefícios, como o adicional noturno. O piso salarial está em R$ 580 mais 20% de insalubridade.
Comerciários estão em campanha
Os trabalhadores do comércio de Rio Preto ainda estão em plena negociação salarial. A expectativa, segundo Miltermai Sanches, presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Rio Preto (Sincomerciários), é fechar o acordo com um reajuste entre 7% e 7,5%. Esta faixa de reajuste é considerada razoável, já que a categoria pleiteava inicialmente8% de aumento nos salários.
“Nossa expectativa é finalizar a negociação o mais breve possível para que os trabalhadores recebam as diferenças salariais e o próprio 13º salário já reajustado antes do Natal. Assim, esse dinheiro entra na economia da região”, afirmou. Atualmente, são 22 mil trabalhadores, que têm salário-base de R$ 675 para uma jornada de oito horas.
Fonte: Diário da Região, em 22/11/09