O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta sexta-feira, em Campinas (SP), os usineiros pelos recentes aumentos no preço do etanol, cobrou seriedade do setor e garantia de oferta do combustível renovável para não afastar possíveis consumidores internacionais.
– Quero dizer que não pode ser assim. O álcool quase acabou nesse país porque não houve seriedade e não houve ajuste de conduta entre empresários, governo e a indústria automobilística. Se quisermos fazer do etanol a matriz energética deste país, precisamos ter seriedade – disse Lula.
A declaração ocorreu durante evento que marcou a assinatura de convênio entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE). No discurso, Lula mostrou ter ignorado as justificativas dos empresários para os reajustes do etanol, e criticou principalmente o aumento na produção de açúcar em detrimento do combustível.
– É no momento em que o álcool está subindo de preço que os empresários argumentam que, como houve excesso de chuvas, houve impossibilidade de cortar 60 milhões de toneladas de cana plantada. Quando o álcool está com bom preço, vocês são empresários energéticos, e quando o açúcar fica com bons preços, viram empresários da agricultura – criticou.
Lula cobrou uma discussão com seriedade e serenidade sobre o setor alcooleiro porque senão todo o trabalho de publicidade para europeus, japoneses e americanos introduzirem etanol na gasolina vai ruir quando perguntarem se garantimos a oferta. Durante o evento, o presidente voltou a afirmar que tem conversado muito com os usineiros, diferentemente do que acontecia no passado.
– Eles tinham medo de mim e eu deles. A história vai mostrar que quem levantou a frota verde foram os trabalhadores, quando, em 1990, incentivamos que os governantes comprassem carros a álcool – acrescentou.
Lula afirmou ainda, na linha de defesa do etanol, que é inexorável o álcool se transformar na grande matriz energética na área de combustível. Nesse momento, Lula brincou e arrancou risos da plateia ao assumir ter ficado surpreso por conseguir pronunciar a palavra inexorável.
O presidente disse ainda que o país tem estrutura, disposição e cientistas preparados no setor de pesquisas em etanol e voltou a cobrar dos países ricos o uso do combustível.
– O que precisamos é os países ricos transformarem os discursos em prática e coloquem o etanol na gasolina deles. Hoje não existe no mundo ninguém que venha dar lição no Brasil sobre questão ambiental e clima. Se quiser dar, primeiro faça a lição de casa – concluiu.
Fonte: Agência Estado, em 23/01/2010