BNDES financiará estoque regulador de álcool

Como forma de evitar a alta volatilidade do preço do álcool combustível, agravada nos últimos meses pela oferta apertada do produto, o país deve formar, este ano, um grande estoque regulador. Para financiar a formação desses estoques, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve disponibilizar cerca de R$ 2,5 bilhões, informou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. “A partir de abril ou maio o mercado deve se regularizar e acredita-se que venha a sobrar etanol, mesmo que a demanda de açúcar continue forte e que haja a possibilidade de fazer a estocagem, porque deve haver excesso de produção”, afirmou.

Segundo o ministro, as chuvas que prejudicaram a colheita e a qualidade da cana-de-açúcar no final de 2009 contribuirão para uma produção recorde este ano. Em 2009, os recursos para estocagem já haviam sido ofertados pelo BNDES, mas não houve sobra de etanol. Na época, o montante era suficiente para financiar o armazenamento de aproximadamente 5 bilhões de litros de combustível, o equivalente a mais de três meses de consumo.

Importação

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem (25) que não gosta da ideia de o Brasil importar etanol dos Estados Unidos como forma de suprir o mercado brasileiro de combustível. A ideia estaria em debate no governo como medida para aumentar a oferta e possibilitar redução no preço do álcool combustível no mercado interno.

“Não gostamos da ideia de importar etanol. Prefiro arrumar uma solução interna”, disse Lobão. Ele fez questão de frisar, entretanto, que a hipótese de importação do produto não está descartada. Como tentativa de aumentar a oferta de etanol no mercado brasileiro, o governo autorizou a redução de 25% para 20%, a partir de 1º de fevereiro, da mistura de etanol à gasolina. Lobão fez as declarações ao chegar ao Ministério de Minas e Energia para presidir reunião do Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE).

Reajuste começa nas usinas

A alta do etanol nas bombas acompanha a evolução dos preços praticados pelas usinas. O último indicador Cepea, para o período de 18 a 22 de janeiro, revela que o álcool hidratado estava cotado a R$ 1,2055 o litro, um aumento de 1,37% em relação à semana anterior. O álcool hidratado também subiu, 1,75%, e estava cotado a R$ 1,3118 o litro. Os preços são relativos às vendas das usinas para as distribuidoras, sem impostos.

O Cepea analisou uma acentuada variação dos preços do álcool nesta safra de cana-de-açúcar na região Centro-Sul. Entre maio e junho, o preço médio do hidratado foi de R$ 0,6052 no Estado, o mais baixo da década. A média entre outubro e dezembro foi de R$ 0,9594, a quinta maior média deste trimestre na década, o que caracteriza a inclinação da curva dos preços ao longo do ano-safra, que vai de abril de 2009 a março.

Levantamento do Cepea também revela aumento no preço da saca de 50 quilos do açúcar, com impostos e sem frete entre o final de novembro e dia 22 de janeiro. O valor passou de R$ 55,47, cotação do dia 30 de novembro, para R$ 71,85, cotação do dia 22 de janeiro, a última disponibilizada. Com isso, a alta foi de 29,5%.

Arquivo

Usinas do Centro-Sul moeram 523,24 milhões de toneladas de cana
Volume de cana processada cresce

Balanço da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostra que entre abril do ano passado e 1º de janeiro deste ano, o volume de cana processado na região Centro-Sul foi de 523,24 milhões de toneladas, 5,24% superior ao mesmo período de 2008. O acumulado desde o início da safra mostra que 43,31% da cana processada foi direcionada para a produção de açúcar e 56,69% para a produção de etanol.

A produção de açúcar acumulada atingiu 28,30 milhões de toneladas até o final de novembro, 6,53% superior ao volume produzido no mesmo período na safra anterior. A produção acumulada de etanol alcançou 22,73 bilhões de litros, 7,69% inferior ao volume produzido na safra anterior.

Segundo o representante da Unica em Ribeirão Preto, Sérgio Prado, o setor deixou de faturar R$ 3 bilhões neste ano, o que corresponde a 1,8 bilhão de litros de etanol e de 2,2 milhões de toneladas de açúcar que deixaram de ser produzidos, em função, entre outros, de questões climáticas. “Houve muitos problemas nesta safra. Ficou muita cana no campo em função das chuvas e a cana não está com o mesmo teor de sacarose.”

Prado acredita que não vá faltar etanol no mercado, apesar de os estoques estarem reduzidos, já que a safra começa em meados de março. “Se houvesse um estoque regulador, quando surgissem problemas com moagem, eles seriam resolvido sem solavancos”, afirma. Em comunicado divulgado à época de seu último balanço, no dia 12, a Unica também afirma que o aumento da demanda de etanol no período da safra, superior a 25%, levou a uma recuperação natural dos preços. “Assim, não se configura a tese de que a opção de algumas usinas em aumentar a produção de açúcar tenha sido fator determinante para a redução da oferta de etanol. Até porque a capacidade de redirecionamento produtivo de etanol para açúcar é restrita na maior parte da indústria”, diz o documento.

Litro está 25% mais caro

O preço do etanol registrou um aumento de 25,6% nos postos de combustíveis de Rio Preto entre novembro do ano passado e janeiro deste ano. Os dados fazem parte do levantamento realizado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na pesquisa feita em novembro, entre 169 postos consultados, o preço médio observado foi de R$ 1,492. Naquela ocasião, o preço mínimo era R$ 1,389 e o máximo, R$ 1,599. Já no último levantamento, válido para o período de 17 a 23 de janeiro, o preço médio do produto era R$ 1,796, o que representa uma alta de 25,6%. O preço mínimo era R$ 1,679 e o máximo, R$ 1,899.

Dados da Secretaria de Planejamento de Rio Preto, que levanta o Índice de Preços ao Consumidor de Rio Preto (IPC-RP), em parceria com a Fipe e Faculdades Dom Pedro II, mostram que neste mês, o preço do álcool teve uma variação de 26,84% em relação ao mês anterior e contribuiu com 0,36% para a composição do índice. Em dezembro, a variação havia sido de (-1,13%), com contribuição negativa de (-0,02%). O IPC daquele mês fechou com deflação de 0,11%. Já em novembro do ano passado, a variação foi de 1,30% e a contribuição foi de 0,02% no IPC, que encerrou o mês em 0,35%. Na cesta de grupos, o peso do álcool na composição do índice é de 0,01337%.

Proporção

O consumidor que tem carro bicombustível deve ficar atento porque abastecer com álcool só é interessante quando o preço representar até 30% do valor da gasolina. Em relação ao preço médio registrado pela ANP em 33 estabelecimentos pesquisados em Rio Preto, entre 17 e 23 deste mês para a gasolina (R$ 2,499), o valor do álcool só compensa para carros flex se custar até R$ 1,749.

”Em alguns casos orientamos o consumidor a optar pela gasolina porque a rentabilidade é maior, o veículo anda mais gastando menos”, afirma o presidente do Sindicato dos Postos Revendedores de Combustíveis e Derivados de Petróleo (Sincopetro), Roberto Uehara.

Ele diz que há dois fatores influenciando na alta do preço do etanol, um climático e outro econômico. “A alta cotação do açúcar no mercado externo tem levado as usinas a priorizar a produção desse produto.” Além disso, as fortes chuvas têm provocado a diminuição das reservas de etanol. Para Uehara, o equilíbrio deve ocorrer entre março e abril, período de início da safra da cana-de-açúcar.

Entressafra pressiona preços

O consultor em gerenciamento de risco da FCStone, Bruno Zaneti, diz que o principal fator a influenciar os aumentos de preços do álcool e do açúcar é o período de entressafra. O movimento ocorrido com o etanol foi de desvalorização entre março e janeiro do ano passado, quando chegou a ser vendido por R$ 0,60 e até abaixo do custo de produção.

”A oferta de hidratado foi maior do que o consumo no começo da safra. Depois, os preços subiram em função dos baixos estoques, consumo constante e produção inferior.” Para ele, os preços chegaram a um patamar próximo ao teto e a estabilização deve ocorrer a partir de março, quando se prevê o início da safra de pelo menos 155 usinas. “Com isso haverá a retomada da produção e deve haver desaceleração dos preços.”

No caso do açúcar, Zaneti explica que os estoques estão em torno de 3 milhões de toneladas, quantidade suficiente para atender aos mercados interno e externo, mas de uma maneira um pouco adversa. “Os estoques estão relativamente baixos. Vamos passar a entressafra, mas em condições difíceis.” Zaneti acredita que as perspectivas de preço ainda são altas, porque não há um substituto perfeito, como a gasolina para o etanol. “A demanda deve falar alto e com a falta de oferta deve haver ainda maior valorização”, prevê.

Fonte: Diário da Região, Agências Brasil e Estado, em 26/01/2010

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