Diante do aumento de quase 55% no preço do litro do álcool desde junho de 2009, o governo estuda importar etanol. A medida ajudaria a aumentar a oferta do combustível, que caiu devido às chuvas dos últimos meses – quatro bilhões de litros deixaram de ser produzidos. Mas há quem acredite que o Governo pretende evitar um “apagão verde” – opinião do economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “A preocupação é com o alto preço e a possibilidade de faltar etanol na bomba”, diz.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, não existe esse risco porque as vendas de álcool caíram 30% nos últimos meses com a migração para a gasolina. Outro motivo são os 100 milhões de litros a mais por mês no mercado, liberados pela diminuição de 25% para 20% na mistura de etanol na gasolina.
O ministro Edison Lobão disse que o governo cogita a hipótese de importação para aumentar a quantidade de álcool no mercado nacional. Assim, o preço médio do litro, de R$ 1,823 na Capital, poderia baixar. Em junho, ele chegou a custar R$ 1,18, segundo pesquisa da Agência Nacional de Petróleo.
Para Mirian Bacchi, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – USP), não é preciso importar o combustível. “A próxima safra está próxima, e o consumidor tem mais opções com os carros flex, não é como no passado.”
Norte-americano
Quem poderia fornecer etanol ao país seriam os Estados Unidos, maior produtor do mundo. A AIE (Agência Internacional de Energia) estima que eles vão produzir este ano 770 mil barris por dia contra 510 mil barris do Brasil. A diferença é que o álcool dos EUA é feito do milho, enquanto o brasileiro vem da cana-de-açúcar.
Hoje, o produto norte-americano é mais barato. No entanto, se fosse importado pelo Brasil, teria que pagar alíquota de 20%. Por isso, a Camex (Câmara de Comércio Exterior) estuda zerar essa tarifa. Segundo Mirian, o etanol norte-americano é menos produtivo, mas está mais barato em razão dos problemas sazonais no Brasil.
Chuva diminui moagem da cana
Para a professora Mirian Bacchi, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o álcool subiu muito em relação ao início de 2009 devido à chuva. “As usinas ficam sem moer a cana cerca de 35 dias por safra, em razão do clima. Desta vez, foram quase 70”, explica.
Na última safra, de abril a dezembro, foram produzidos 22,9 bilhões de litros de etanol. Não fossem as chuvas, haveria mais quatro bilhões de litros nos postos.
Outra razão para o preço alto seria a prioridade para o açúcar. Segundo Hélio Pirani, diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), é mais interessante para as usinas transformar a cana em açúcar, porque os preços de exportação estão mais atrativos. “Em vez de importar etanol, bastaria que o Governo taxasse as exportações de açúcar.”
Enquanto isso não ocorre, para equilibrar o preço, a safra será antecipada para março. Porém, Mirian já adianta que os valores não chegarão perto da pechincha de R$ 1,18, em meados do ano passado. “O álcool ficou abaixo do custo de produção nas usinas, foi atípico. Por isso, o consumidor ficou mal acostumado.”
Fonte: BOM DIA RP, em 01/01/2010