Na média, de acordo com pesquisa realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em mais de 700 postos do estado (RJ), esse percentual está caindo a cada semana e já está no patamar de 72%. O fim da entressafra da cana-de-açúcar é o maior responsável pela queda do preço do álcool nas bombas dos postos, invertendo a alta que começou no fim de 2009 e se estendeu por todo o verão. Nas últimas quatro semanas, a variação do preço médio do litro do etanol no Rio caiu 8%, informou ontem a ANP. E a tendência é que os preços continuem baixos, pelo menos, até outubro.
Donos de postos já esperam um aumento de até 15% no consumo de álcool a partir da semana que vem.
O litro do combustível estava sendo vendido, em média, a R$ 1,930, contra R$ 2,699 do litro da gasolina. Há um mês, o litro do etanol estava, em média, a R$ R$ 2,097. Repórteres do GLOBO percorreram ontem cinco postos — de quatro bandeiras diferentes —, na Zona Sul e na Zona Norte do Rio, e constataram que em quatro deles já vale a pena abastecer com etanol.
Para o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares, ainda este mês os preços do álcool combustível já estarão competitivos em todo o território nacional. Em sete estados de todas as regiões do país, o preço do álcool já compensa.
— O preço nas usinas está em queda, e, em maio, certamente já estaremos com os preços médios cobrados no ano passado. A redução de preço (do etanol) não é muito simples de ser feita. Uma Shell, por exemplo, comprou em março grande quantidade de álcool com preço superior ao que comprou em abril. E tem que vender todo o estoque sobre o qual pagou mais para, então, passar o desconto ao consumidor na bomba.
Costumo dizer que os preços sobem em velocidade de foguete e descem de paraquedas. O processo de descida é inexorável, mas lento — afirmou Soares.
Ele diz que o aumento do preço no início do ano pode ser atribuído a uma entressafra anormal.
— Por causa das fortes chuvas, São Paulo, que responde por 70% da produção alcooleira nacional, perdeu 50 milhões de toneladas de cana de novembro a janeiro. Houve ainda um agravante: a seca na Índia fez com que as usinas apostassem no açúcar para exportação, reduzindo o percentual de cana que era destinado à fabricação de álcool para o mercado nacional
Em maio, gasolina começa a cair
O diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), Antonio de Padua Rodrigues, lembra que esse efeito na redução dos preços deve chegar, em maio, à gasolina. Isso porque a partir do dia primeiro deste mês o percentual de álcool na gasolina voltará aos 25%.
Por causa da crise no início do ano, o governo decidiu reduzir esse percentual para 20%.
— Mas temos que ficar acompanhando o mercado, o setor de combustíveis é muito dinâmico e os preços mudam diariamente — disse Rodrigues.
O especialista em energia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), lembra que a queda no preço do álcool deve continuar até outubro. Entretanto, ele afirma que é difícil prever um percentual dessa redução: — A venda de carros flex (bicombustíveis) continua acelerada, o que aumenta a demanda por álcool.
Além disso, ainda não estamos livres de mudanças climáticas que podem alterar a colheita da cana.
O administrador Carlos Zaranza, mesmo ainda abastecendo seu Fiesta Flex com gasolina, já recomeçou a fazer as contas todas as vezes em que vai ao posto: — Há três meses passei a adotar a gasolina por causa do preço, o carro rende mais, mas daqui a pouco volto para o álcool, é só baixar mais alguns centavos.
A enfermeira Eliane Lourenço , dona de um Gol Flex, voltou a ser fiel ao álcool.
— Muitos dizem que o álcool corrói mais o motor, mas quando fazemos as contas percebemos que compensa.
O gerente do posto Ponei, da bandeira Ipiranga na Lagoa, Alberto Martins, já sente o aumento da procura pelo álcool. Segundo ele, isso tende a ser intensificado, já que o preço do combustível deve cair ainda mais nas próximas semanas.
Fonte: jornal O Globo