Símbolo de riqueza e poder no século 17, o açúcar, que começou a ser produzido no Brasil há 500 anos, é cada vez mais demandado por países que estão ampliando o poder de compra e o consumo de alimentos processados. A maior expansão do consumo per capita deverá ocorrer em regiões como a Ásia, onde a renda cresce rapidamente, relata o Coordenador de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Luís Job. Nesse cenário, o País, que já é o maior produtor mundial, tem aumentado sua presença no mercado internacional da commodity. Ano passado, a quebra de safra na Índia e a maior procura pelo produto resultou na produção brasileira recorde de 33 milhões de toneladas, 20% do volume mundial, um crescimento de 10,5% em relação ao ano anterior.
O açúcar movimenta a economia nacional desde 1532, quando os primeiros engenhos foram instalados em São Vicente/SP e Olinda/PE, época em que apenas as altas camadas sociais consumiam o produto. Depois de 1939, a produção canavieira, até então concentrada na região Nordeste, começa a se expandir no estado de São Paulo, atualmente o maior produtor nacional. Em 1943, paulistas ligados à lavoura, como os irmãos Pedro e José Ometto, com o apoio de Mario Dedini e José Bassinello, adquiriram a Fazenda Pau D´Alho, no município de Barra Bonita, com o objetivo de implantar uma nova usina de açúcar. A intenção era adotar uma cultura extensiva para suceder o café, em marcha acelerada para o norte do Paraná.
A regulação do setor sucroalcooleiro faz parte das atribuições do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) há 11 anos. Mas a primeira instituição que respondeu pela função foi o Instituto do Açúcar e Álcool (IAA), motivado pela rápida expansão da cana-de-açúcar no Sudeste e Nordeste do País. Criado em 1993, durante o governo Vargas, tinha ainda a responsabilidade de controlar a produção por meio de um regime de cotas que definia a quantidade de cana que cada usina podia moer. Havia limites para a produção de açúcar e álcool e aquisição de equipamentos ou modificação dos existentes também dependia da autorização do IAA.
Com a reformulação da estrutura do Mapa, foi criada, em 2005, a Secretaria de Produção e Agroenergia (SPAe), com setor específico para o tema, o Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia (DCAA), que representa o Mapa em acordos internacionais para cooperação na produção de cana, açúcar e etanol.
Nosso trabalho de acompanhamento da produção brasileira de açúcar é referência doméstica e internacional, pois instituições públicas e privadas usam os dados quinzenalmente publicados no site. Também representamos o Mapa na Organização Internacional do Açúcar (OIA), que congrega os maiores países produtores, consumidores, importadores e exportadores de açúcar, observa o coordenador. Ele reforça que o açúcar já é uma das commodities mais tradicionais e o trabalho do Mapa é fundamentalmente de monitorar, tanto a produção, quanto os mercados. Estamos atentos também aos temas de comércio internacional para identificar eventuais barreiras ou oportunidades para o produto brasileiro no exterior, ressalta.
Números – Segundo Luís Job, a alta da produção de açúcar, em 2009, deve-se ao declínio da produção em diversos países e à redução significativa nos estoques mundiais para compensar o déficit da safra indiana, o que alavanca a commodity brasileira e mantém o preço do açúcar elevado no mercado internacional.
Países como Índia, Estados Unidos, Tailândia, China e México deverão apresentar pequena recuperação na produção canavieira, além de usar seus próprios estoques. No mercado futuro, a tendência é de queda gradativa no preço até 2011. O açúcar bruto deverá passar dos atuais US$ 480/tonelada para US$ 390/tonelada e o refinado, de US$ 540/tonelada para US$ 490/tonelada, observa Job. Mantida essa tendência de preços altos no mercado internacional, a produção de açúcar pode crescer em detrimento do álcool nas próximas duas safras.
O setor sucroalcooleiro reúne as indústrias mais dinâmicas da economia brasileira. É um dos principais geradores de emprego e renda no País. Por ser uma commodity, o preço do açúcar é formado no mercado externo (bolsas de Nova York e de Londres) e o interno acompanha a paridade de exportação. O produto é um dos principais da pauta de exportação brasileira, com receita de mais de US$ 8,2 bilhões.
O contrato futuro de açúcar, negociado na Bolsa de Mercadorias de Nova Iorque (ICE Futures), é referência primária dos preços não controlados do açúcar bruto no mundo. Outro valor de referência é o açúcar refinado negociado na Bolsa de Mercadorias de Londres (Liffe). No Brasil, são formados de acordo com os princípios do livre mercado, sendo que o principal é o índice da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que influencia diretamente nos preços no mercado internacional.
São destaques no setor o Brasil, Índia, Estados Unidos, Tailândia, China e México. O açúcar é fabricado a partir da cana-de-açúcar e da beterraba, porém, a cana é responsável por mais de 70% da produção total. Os maiores consumidores são exatamente os cinco maiores produtores, responsáveis por 59% da produção mundial. O Brasil lidera com 20% de participação. O segundo e o terceiro são a Índia (15%) e a China (10%). O aumento do consumo de açúcar leva ao incremento na produção da cana, que passou de menos de um bilhão de toneladas, em meados da década de 90, para aproximadamente 1,7 bilhão de toneladas em 2009, ressalta Job.
Em 2010, a produção de açúcar no Brasil deve alcançar 38,7 milhões de toneladas, segundo números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A região Centro-Sul deve produzir 33,7 milhões de toneladas e a região Norte/Nordeste, 4,9 milhões de toneladas.
Técnica de fabricação – O primeiro passo do preparo da cana é lavar, partir e desfibrar, antes de chegar às moendas para trituração e extração do caldo. Uma vez peneirado para a eliminação das impurezas, o caldo é encaminhado para a fabricação. No caso do açúcar cristal, é aquecido e separado, por decantação, que sem as impurezas, dá origem a um caldo claro, que passa por processos de evaporação, cristalização e por último a secagem, quando se formam os cristais de açúcar.
Já para chegar ao tipo refinado, é preciso dissolver o açúcar cristal. A solução purificada gera uma calda, que é aquecida até um ponto preestabelecido. Transferida para batedeiras, transforma-se em massa quente e úmida. Nessa etapa, os cristais ainda não têm uma forma definida. Para secar e esfriar, o açúcar é enviado para secadores. Por último, é peneirado para separar os aglomerados e obter a uniformidade dos cristais. Da parte mais fina é extraído o açúcar de confeiteiro e do restante, obtém-se o refinado.
Fonte: Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento, em 28/07/2010