A opinião pública norte-americana voltou-se para o etanol -em um debate que envolve duas das principais preocupações daquele país: deficit orçamentário e segurança energética.
Nos últimos dias, os principais jornais dos EUA discutiram, em editoriais, os subsídios ao álcool que é produzido a partir do milho naquele país. Do New York Times ao Washington Post, passando pelo Wall Street Journal, todos foram contra.
O incentivo para o debate foi a publicação de um relatório do escritório de análise orçamentária do Congresso (CBO), que mostrou o alto custo dessa política. Segundo o CBO (que é um órgão independente do Congresso), em 2009 os incentivos aos biocombustíveis significaram uma renúncia fiscal de US$ 6 bilhões aos EUA.
Em tempos de Orçamento apertado,
destinar US$ 6 bilhões ao etanol de milho está sendo visto como um alto custo para incentivar um produto já consolidado. Os subsídios ao biocombustível foram implementados na década de 1970 e são constantemente renovados. A sua vigência termina em 31 de dezembro, mas a prorrogação está de novo na mesa dos congressistas, o que justifica o calor do debate.
O dinheiro beneficia principalmente refinarias e grandes fazendeiros e poderia ser mais bem gasto talvez no desenvolvimento de formas mais avançadas de etanol, disse o New York Times.
O governo paga US$ 0,45 por galão (US$ 0,12 por litro) para as refinarias pela mistura do etanol à gasolina. E é nesse incentivo que residem as principais críticas.
É como pagar às pessoas por obedecer ao limite de velocidade, afirma Sasha Lyutse, do Natural Resource Defense Council, ONG ambiental norte-americana.
A avaliação é que, uma vez que a mistura é mandatória, não é necessário pagar às refinarias para fazer a mistura. Os produtores de carne, que utilizam milho na ração dos animais, também abraçaram a causa. Para eles, o fato de o mercado de grãos estar diretamente ligado à produção de biocombustíveis traz volatilidade e inflaciona o preço dos alimentos.
Palavra da Indústria
A indústria americana de etanol critica o relatório. Para ela, o material é cheio de falhas e ignora os bilhões de dólares que os EUA gastam com a compra de petróleo. Por isso, Stephanie Dreyer, porta-voz do Energy Growth (grupo que reúne produtores de etanol dos EUA), minimiza o efeito dos editoriais, dizendo que eles contam apenas uma pequena parte da história.
Ela afirma acreditar que o Congresso americano vai renovar o auxílio, ainda que possa sofrer alterações. O relatório do CBO levanta ainda dúvidas sobre a eficácia do etanol de milho na redução de emissão de gases de efeito estufa. Para a entidade, outras matérias-primas, como a cana-de-açúcar, são mais eficientes do ponto de vista ambiental. (Tatiana Freitas e Álvaro Fagundes)
Fonte: Folha de SP, em 01/08/2010